Por Ricardo Rio, in iOnline
Até que limite vai o nosso desprendimento e entrega na concretização de objectivos e, por outro lado, até que ponto é que o nosso contributo é determinante para alterar realidades?
Os portugueses são um povo genuinamente solidário. Nas mais diversas circunstâncias, desmentimos os egoísmos pontuais e os alheamentos colectivos em relação aos problemas que afectam aqueles que mais precisam e entregámo-nos às diversas iniciativas que visam minorar as suas dificuldades.
Mais do que a afirmação de um valor genético ou uma evidência de senso comum, esta realidade tem confirmação estatística, continuamente quantificada em função dos resultados das múltiplas campanhas promovidas.
Dos peditórios em benefício das "grandes" e "pequenas" causas aos esforços de angariação de roupas, alimentos, brinquedos, livros, medicamentos e demais bens essenciais; da participação em acções pontuais de voluntariado ao trabalho continuado em projectos de cariz social, os exemplos são intermináveis e cruzam idades, estratos sociais e actividades profissionais, em benefício de uma multiplicidade de públicos-alvo.
Neste âmbito, nem se pode sequer evidenciar uma lógica de aplicação do princípio bíblico da "ajuda ao próximo", uma vez que temos a extraordinária capacidade de nos comovermos e empenharmos igualmente no apoio ao mendigo da nossa rua e ao desalojado de um tsunami do outro lado do mundo.
Seja como for, e sem que se possa pôr em causa o mérito de toda e qualquer acção que possa minorar o sofrimento de um nosso semelhante, há duas questões sobre as quais vale a pena reflectir: até que limite vai o nosso desprendimento e entrega na concretização de tal objectivo e, por outro lado, até que ponto é que o nosso contributo é determinante para alterar essa realidade? Ou, se quisermos ser ainda mais ambiciosos: de que forma é que somos mesmo capazes de mudar o mundo?
É aqui que entra a Rita. Rita Martins, de seu nome, nascida em Braga há pouco mais de trinta anos, licenciada em psicologia pela Universidade de Coimbra, que sempre juntou a participação em projectos de solidariedade e voluntariado à sua actividade profissional.
Em Maio de 2014, e depois de uma primeira experiência em Mombaça, no Quénia, foi seleccionada para realizar um SVE - Serviço de Voluntariado Europeu junto de uma ONG que actua em Kibera, a maior favela do país.
Imediatamente, criou as bases de um ambicioso projecto pessoal - a Hodi Kibera (https://www.facebook.com/HodiKibera) - para o qual tem conseguido mobilizar um vasto rol de apoios.
Através deste, conseguiu já garantir o apadrinhamento de mais de uma centena de crianças nas suas despesas escolares, médicas e de alimentação; assegurar o financiamento para um centro comunitário onde serão desenvolvidas actividades formativas e artísticas, incluindo a criação de uma biblioteca; implementar um programa de micro negócios de base artesanal para mães solteiras sem emprego; implementar um programa de apoio alimentar para duas escolas de Kibera (num universo de 180 alunos); prestar serviços de aconselhamento a pais e alunos e contribuir para a realização de acções de orientação vocacional nas escolas secundárias.
Por entre as agruras do dia-a-dia e as naturais dificuldades de quem tem que enfrentar as débeis condições de vida ao alcance da generalidade da população de Kibera, cada um destes projectos representa um progresso relevante e assume-se como uma verdadeira sementeira de sorrisos em terreno agreste.
Mas não são só os sorrisos da Rita, a quem nem conheço pessoalmente. São, de certa forma, os sorrisos de todos os Portugueses. Quando queremos...
Presidente da Câmara Municipal de Braga