Por Hugo Neutel, in TSf
CIP denuncia que as empresas que vão aos bancos procurar as linhas de apoio do governo regressam sem resposta e acusa lentidão do Estado. António Saraiva admite que milhares de empresas não consigam pagar os salários deste mês.
António Saraiva confirma que a Confederação Empresarial de Portugal tem recebido relatos de empresários que contactaram os bancos para aceder às linhas de crédito de 3 mil milhões de euros anunciada pelo Governo, mas ficaram sem resposta - porque as instituições financeiras não sabiam dá-la.
Nem é culpa dos bancos, diz António Saraiva, que lembra que "estão assoberbados com o número de pedidos" e têm muitos trabalhadores em teletrabalho. O líder da CIP aponta para outros alvos: o Estado e a União Europeia.
Saraiva admite que tem tido "relatos de entidades empresariais que tentam ir ao banco solicitar as linhas. A primeira linha de 200 milhões demorou a ter aplicação prática, e esta linha de 3 mil milhões ainda carece disso". E a culpa é da burocracia de Lisboa e Bruxelas: "a Comissão Europeia autorizou as linhas apenas na sexta-feira", recorda.
O representante patronal na Concertação Social considera "desejável e louvável lançar medidas que tentem responder à avaliação que vai sendo feita", mas avisa: "Outras seguramente que vão ser lançadas porque não vai ser suficiente". "O Estado português sozinho", garante, "não vai ser capaz de responder sozinho a esta dimensão que nos atingiu. A União Europeia vai ter um papel de coesão e solidariedade encontrando um mecanismo de ajuda que seja rápido e suficiente". Saraiva enfatiza que "tão importante quanto as medidas é haver rapidez na execução".
97% das empresas tem até 10 trabalhadores
Depois de a Câmara de Comércio e Indústria de Portugal ter concluído, num inquérito a 160 empresas, que 30% das marcas afirma que não conseguirá pagar os salários de março e abril, o presidente da CIP admite o mesmo cenário.
"Noventa e sete por cento das empresas tem até 10 trabalhadores", lembra, afirmando que se tratam de "milhares de pastelarias, de cafés, de quiosques por este país fora, de pessoas em pequenas unidades empresariais". Estes pequenos negócios "vivem do dia-a-dia, da caixa que fazem, das vendas que fazem para irem acumulando par pagarem impostos, salários e contribuições" e "de um dia para o outro deixaram de ter receitas porque os clientes desapareceram".