5.3.20

Casas frias e degradadas. Bispo da Guarda denuncia carências sentidas pelas populações

Liliana Carona, in RR

D. Manuel Felício pede uma discriminação positiva para o interior do país no setor da energia e dos transportes.

D. Manuel Felício alerta para as dificuldades sentidas pelas populações das Beiras e da Serra da Estrela, tanto ao nível dos transportes como do parque habitacional. O bispo da Guarda fala mesmo em habitação degradada, com falta de condições, denunciando falhas no aquecimento, por causa do preço elevado da energia.

Um estudo do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), revelado em fevereiro, mostra que cerca de um terço dos habitantes das Beiras e Serra da Estrela vivem em condições indignas. Estes dados revelavam que o número de famílias que vivem situações de grave carência habitacional na região ultrapassa os 30%.

Contudo, a Comunidade Intermunicipal Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE) emitiu um comunicado onde questionou os resultados do estudo do IPG O representante do organismo Luís Tadeu considerou ser “uma interpretação abusiva e enviesada” face ao número elevado de edifícios em degradação.

A Renascença não conseguiu falar com os autores para perceber quais as variáveis tidas em conta, mas falou com o Bispo da Diocese da Guarda, que há cinco anos juntamente com Cáritas e a Universidade da Beira Interior (UBI), encomendou um levantamento das situações de carência, onde a habitação era também um ponto de preocupação.

“Não vale a pena tapar os olhos. Com certeza que há bastantes casos. A Cáritas fez um levantamento com a UBI das situações difíceis e de facto a habitação já era um ponto de preocupação. Habitações degradadas, com sanidade limitada, habitação alugada que carecia de bastante requalificação. Não estou em condições de dizer que são 30 ou 40%. Foi um estudo há cinco anos e depois foi publicado um livro com as situações mais emergentes. Vidros partidos, substituição de tetos”, exemplifica.

D. Manuel Felício alerta para a falta de aquecimento das habitações e relembra a necessidade de uma discriminação positiva. “Sobretudo na Guarda, o aquecimento é indispensável e esse é um preço acrescido que temos de pagar - é uma fatura muito elevada. As energias e os transportes tinham de ter uma discriminação positiva, para ajudar a equilibrar. Nós não temos onde comprar um passe de 30 euros e onde possamos dispensar o carro”, realça.
Apesar de o prelado ter “manifestado apreço à secretária de Estado da Coesão pelas medidas tornadas públicas”, até este momento a discriminação não tem sido positiva, mas negativa.

“Pagamos mais de energia e ganhamos menos, pagamos mais de transportes e ganhamos menos, além disso, as pessoas estão mais retraídas. Diminuiu o número de visitas sazonais porque os transportes são uma dificuldade”, alerta.

D. Manuel Felício recorda ainda que a diocese da Guarda presta também diversos apoios ao nível de pequenos e grandes consertos em habitações através dos 30 centros sociais paroquiais, 25 misericórdias e 10 fundações.