Andreia Sanches, in Jornal Público
Ministério da Administração Interna diz que a criminalidade geral terá subido dois por cento em 2006
O telefone toca cada vez mais vezes na associação portuguesa de apoio à vítima (apav). Em 2006, chegaram às mãos dos técnicos relatos de 15.758 crimes - mais 9,6 por cento do que no ano anterior. Quase 6800 pessoas procuraram apoio junto desta associação. A maioria (53 por cento) não fez queixa à polícia. Ano após ano, os números revelam sempre a mesma "desconfiança" no sistema judicial, diz o psicólogo clínico Daniel Cotrim.
O grosso dos casos reportados está relacionado com a violência doméstica - representa 85 por cento das situações e subiu em relação a 2005. As estatísticas parcelares das polícias, divulgadas no início deste ano, já davam conta do crescimento das queixas, com mais de 18.300 casos. Os dados que hoje, dia europeu da vítima de crime, serão apresentados pela apav, confirmam esta tendência e também uma outra: o peso das vítimas idosas está a aumentar. O grupo das pessoas com 65 ou mais anos representa já sete por cento do total (eram 5,6 por cento em 2005) das que tendo sido alvo de crime foram, de alguma forma, acompanhadas pela apav.
"As vítimas mais velhas têm cada vez mais consciência de que são alvos fáceis", justifica o psicólogo da associação. "as situações mais comuns são a negligência, os maus tratos, o abuso de confiança - há desde o filho que agride o pai, até à pessoa que gere as finanças do idoso em seu benefício próprio", continua cotrim. Mostra ainda o balanço de um ano de trabalho da apav que o alcoolismo continua a marcar os percursos de muitos dos agressores - em 23,5 por cento dos casos os autores do crime são alcoólicos. E que a faixa etária prevalecente é a que vai dos 26 aos 55 anos. também há, contudo, agressores menores de idade (43 no total).
Quanto ao perfil das vítimas de crime, são sobretudo mulheres (88 por cento dos casos) entre os 26 e os 45 anos (33 por cento). O peso dos menores é de 7,4 por cento. e porque a maior parte dos crimes são de violência doméstica (os maus tratos físicos e psíquicos representam 55 por cento da totalidade), não é de estranhar que a maioria das vítimas relate que a agressão não é algo de novo na sua vida - 12,2 por cento dizem que são agredidas há mais de 11 anos.
O gabinete coordenador de segurança do ministério da administração interna fez saber que "os dados referentes à criminalidade participada no ano passado estão ainda a ser tratados e analisados". Contudo, o que foi já apurado, permite confirmar a tendência de "um pequeno agravamento da criminalidade geral em 2006 face a 2005, da ordem dos dois por cento".
Os dados relativos à criminalidade violenta não são pois conhecidos. mas a apav está preocupada com o que tem sido uma tendência de "aumento nos últimos anos". em 2006 lidou com 22 casos de tentativa de homicídio ou de homicídio. a associação, que oferece vários tipos de apoio a quem a procura, nomeadamente jurídico, está agora a preparar um manual de procedimentos para que os seus técnicos possam desenvolver "um trabalho mais específico" com os amigos e familiares destas vítimas.