28.2.07

Pobreza «envergonha» o mundo

in O Primeiro de Janeiro

O combate à “vergonha” que é actualmente a “pobreza no mundo” deverá ser o próximo grande objectivo da luta pelos direitos humanos, defendeu ontem, numa reunião internacional em Lisboa, o subdirector-geral do sector das Ciências Sociais e Humanas da UNESCO.

Pierre Sane falava no arranque dos trabalhos da reunião internacional daquele órgão das Nações Unidas, que decorre até sexta-feira na Fundação Gulbenkian, onde disse que “acabar com a vergonha da pobreza é, do ponto de vista dos direitos humanos, fundamental e urgente”, depois de terem sido apresentados e analisados os resultados das 42 bolsas de investigação atribuídas pelo programa de pequenas bolsas da UNESCO, que em 2004 pretendeu encorajar os peritos e as instituições a contribuírem para a erradicação da pobreza.

Uma responsável pela apreciação dos trabalhos da América Latina e Caraíbas disse que “o problema da pobreza tem acompanhado desde sempre a região”, e frisou que o “grande desafio das investigações foi olhar o velho tema de uma forma actual”. A relação entre globalização e pobreza, a utilização ilegal de recursos naturais que agrava a situação dos grupos indígenas, a pobreza como obstáculo à construção da cidadania e a importância que esta tem no combate a pobreza, foram alguns dos temas focados nos estudos apresentados.Uma das investigações, realizada pela brasileira Márcia Pereira Leite, debruçou-se sobre a pobreza urbana nas favelas do Rio de Janeiro. Segundo a autora 1,2 milhões de pessoas (20 por cento da população da cidade) vivem em favelas sem as mínimas condições e serviços em áreas “consideradas fundamentais”.

Não obstante, Márcia Pereira Leite disse que, nos últimos anos, as políticas públicas do governo têm piorado drasticamente, sendo o problema da pobreza agravado pela violência originada pelo narcotráfico, “que levou a uma autêntica guerra de jovens, milícias e polícia”. Para combater a pobreza no Brasil, Márcia Pereira Leite vincou a necessidade de programas universais, porque os focalizados, “além de efeitos menores, têm consequências estigmatizantes”. Hans Benno Asseburg, autor de outro estudo, disse que a “questão-chave” para combater o problema no Brasil e no resto do mundo “passa pela cidadania e pela possibilidade de protagonismo dos pobres na luta contra a pobreza. Se os mais carenciados não tiverem possibilidade de definir e participar nos objectivos para enfrentar esta luta não será possível combater a pobreza”, frisou o investigador.