Alexandra Lobão, Correspondente em Bruxelas, in Jornal de Notícias
Cidadãos nacionais acreditam que a educação e o trabalho vão dar aos seus filhos um futuro melhor
Ocusto de vida, o desemprego e o sistema de saúde são três das principais preocupações dos Portugueses, de acordo com uma sondagem ontem divulgada pela Comissão Europeia por ocasião do lançamento de uma consulta pública sobre a realidade social da Europa.
São 56 por cento, os cidadãos lusos que colocam o custo de vida no centro das suas preocupações. Uma posição que só é partilhada por 35 por cento dos cidadãos da União Europeia a 25. Neste bloco de países, os Estados-membros mais ricos e populosos aparecem mais preocupados, por exemplo, com a segurança e a imigração. Ao contrário, sete em cada dez portugueses afirma sentir-se seguro a passear nas ruas à noite.
Curiosamente, em Portugal só dez por cento da população se mostra preocupada com o fosso entre ricos e pobres, apesar de este ser um dos países da UE com mais desigualdades sociais. Pouco incomodados com isso, 86 por cento da população se declare feliz (17 por cento diz-se mesmo muito feliz!).E o que é mais importante na vida, para os Portugueses? A família e saúde, citadas por 99 por cento, os amigos (91 por cento) e o trabalho (85 por cento).
O país regista uma percentagem elevada de pessoas - 46 contra 26 por cento de Europeus - que aponta o sistema nacional de saúde como primeira fonte de preocupação. Mas o desemprego é o factor mais referido (52 por cento) no leque de preocupações. O futuro das respectivas reformas é motivo de inquietação para 35 por cento dos portugueses.
Menos generosos que a média comunitária, são poucos os portugueses que se preocupam em ajudar o próximo, os deficientes ou com a integração dos estrangeiros, ítens citados por apenas 3 por cento da população. Na mesma linha, Portugal é segundo a contar do fim no tocante ao trabalho voluntário (não pago) em prol da comunidade (12 por cento).
Optimismo quanto baste
Mais optimista que todos os outros povos da UE, 57 por cento dos portugueses (a percentagem mais alta da UE-25) acredita numa vida melhor para os seus filhos. Quais as chaves para alcançar um tal objectivo? Uma boa educação (67 por cento) e trabalho esforçado (37 por cento) e não tanto os bons conhecimentos pessoais, as famosas "cunhas" (20 por cento). Registe-se que a percentagem de satisfeitos com o estado das escolas e do ensino é de 56 por cento.
A esperança num futuro melhor não invalida que Portugal registe a menor percentagem de pessoas convictas de que a cobertura social existente no país é suficiente. Apenas 10 por cento se considera satisfeito e Portugal é mesmo o país da UE em que menos pessoas se mostram agradadas com o papel do Estado nesta matéria. Dentro do lares portugueses, são elas que continuam a fazer quase todo o serviço à razão de 81 por cento (limpezas), 85 por cento (cozinha) e 88 por cento (passar a ferro).
A imagem dos políticos anda, por estes dias, um pouco pior que a imagem dos vendedores de automóveis. Questionados pelas Selecções do Reader's Digest, 97% dos 1228 leitores que responderam ao inquérito afirmaram que "não depositam nenhuma confiança na classe política", enquanto que 93% não confia nos vendedores de carros.
No estudo, revelado pela agência Lusa, os portugueses olham para si próprios como pessoas honestas (91%), dedicadas à família, práticas, participativas e activas.
Estes mesmos portugueses confiam, antes de mais, nos pilotos de avião e nos bombeiros (cerca de 93%) e olham também com confiança para os profissionais do sector da saúde, a começar pelos médicos (90%), farmacêuticos (87%) e enfermeiros (86%). Os professores também não saem mal deste estudo, com 74% dos inquiridos a mostrar que confiam em quem ensina.
Menos bem, aos olhos dos portugueses, estão os jornalistas em quem apenas 31% dos portugueses diz confiar. Pior ainda estão os advogados em que essa confiança desce para os 21%. Menos mal estão os padres em que 43% dos portugueses confiam.