Fernando Basto, in Jornal de Notícias
João Carvalho leva 25 anos como carteiro. Do que mais gosta é do relacionamento humano, quase familiar com as pessoas, que confere qualidade ao serviço
Dos seus 52 anos de vida, João Carvalho já dedicou 25 como carteiro. "Trabalhava na construção civil quando soube que os CTT estavam a recrutrar carteiros para o serviço de férias, entre Maio e Outubro. Candidatei-me, gostei e abracei a profissão com muito carinho", recordou.
Afastado há dois meses da distribuição, devido às suas funções enquanto dirigente sindical, João Carvalho já sente falta do contacto com as pessoas e da relação de grande amizade que estabeleceu nas três freguesias de Santo Tirso - Sampaio de Guimarei, Santiago da Carreira e Lamelas - onde, todos os dias, cumpria o seu giro.
Entrava no Centro de Distribuição Postal (CDP) daquele concelho às seis da manhã. "O primeiro serviço do dia era interno: a divisão do correio que não está sequenciado, quer dizer, que ainda não está separado por cada um dos giros ", referiu. Depois, cerca das 8.30 horas, pegava na motorizava e partia para as referidas freguesias. A distribuição ficava terminada cerca da 14.30 horas. Aí voltava ao CDP para justificar o correio não distribuído e proceder à devolução de alguma correspondência.
Entre os principais obstáculos no seu dia-a-dia, João Carvalho destaca as intempéries e os cães. "O mau tempo dificulta-nos a vida e obriga-nos a proteger ao máximo a correspondência, de forma a que não se molhe. Depois há os cães, que não gostam que aquele indivíduo mexa, todos os dias, na caixa do correio do seu dono. É por essa razão que os cães não gostam muito de nós e já tem havido acidentes sérios com carteiros por causa deles", explicou.
João Carvalho sabe que há queixas quanto à distribuição do correio feita por alguns dos seus colegas. No seu entender, tal se deve quer à falta de brio profissional, quer às condições de trabalho e à falta de pessoal qualificado. "Em alguns concelhos, a distribuição do correio não é feita por profissionais da empresa, mas sim por privados a quem é pago esse serviço. Por exemplo, em Penafiel, são 15 as freguesias que têm distribuição privada e que, inclusive, pode ser feita até aos sábados e domingos", referiu.
No seu entender, a contratação de pessoal externo aos CTT põe por terra a relação de afectividade que sempre existiu entre o carteiro e as populações. "O carteiro ainda é um grande prestador de serviço social", sustentou para justificar a necessidade de um profissional estar sempre afecto a uma zona de distribuição. "Isto permite um melhor conhecimento da zona de entrega e, por conseguinte, uma garantia de qualidade na distribuição do correio. O carteiro conhece os hábitos de vida de cada um e não falha nas entregas", concluiu.