in Jornal Público
Tensão com a primeira-ministra do Bangladesh agudiza-se. O Grameen garante que não há irregularidades e que a lei foi cumprida
O banco dos pobres
Depois de meses de braço-de-ferro, o Governo do Bangladesh demitiu ontem Muhammad Yunus da direcção do Grameen Bank, o banco do microcrédito, que fundou em 1983. O Grameen anunciou que vai resistir e manter Yunus no seu cargo.
"O Banco do Bangladesh dispensou Yunus das suas funções de director-geral do Grameen Bank com efeito imediato", declarou à AFP Muzammel Huq, presidente do Grameen Bank.
Segundo Huq, o Banco Central acusa o Nobel da Paz de não cumprir com as regras fundadoras da instituição na nomeação do director-geral, feita em 2000 sem o acordo prévio do Banco do Bangladesh. A BBC adianta que Yunus é também acusado de violar as leis da reforma, que o obrigariam a retirar-se aos 60 anos - tem agora 70.
Mas no seu site, o Grameen garante que tem "cumprido a lei", incluindo na nomeação de Yunus para director-geral e que este "irá assim continuar em funções".
A origem dos problemas com a primeira-ministra, Sheikh Hasina, estará na turbulência de 2007. Depois de meses de tumultos, com confrontos nas ruas entre apoiantes dos principais grupos partidários, o Nobel anunciou as suas intenções de criar um partido. Meses depois a ideia era abandonada, mas estava criada a rivalidade com Hasina, cuja Liga Awami voltou ao poder em Dezembro de 2008.
Há meses que Yunus tem estado sob a mira das autoridades. Sucederam-se os casos em que teve de se justificar publicamente, ora na imprensa, ora em tribunal. Muitos observadores, dentro e fora do país, não têm dúvidas de que todos estes casos contra Yunus são um ajuste de contas da primeira-ministra.
Há quem pense também que o Governo está a tentar apoderar-se do Grameen Bank: uma em cada três pessoas no país está ligada ao banco. Depois de ter defendido o microcrédito, Hasina afirmou recentemente que esta é uma forma de "sugar o sangue dos pobres em nome do combate à pobreza".