Por José Manuel Rocha, in Público On-line
Portugal deverá aumentar este ano a dependência da importação de cereais. Segundo o mais recente Boletim Mensal de Agricultura e Pescas, publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a área semeada com cereais de Inverno caiu abaixo dos 150 mil hectares, algo que não sucedia há 25 anos.
Este facto irá traduzir-se, inevitavelmente, num recuo da produção nacional e obrigará o país a aumentar as compras ao estrangeiro - num quadro de escalada dos preços dos cereais nos mercados internacionais.
O índice do preço dos alimentos que todos os meses é calculado pela FAO (organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação) evidenciou um aumento anual de 92 por cento no preço do milho e de 62 por cento no do trigo.
O próprio INE estranha a situação, ao afirmar, no boletim, que a subida do preço dos cereais e, em especial, do trigo, "não teve os reflexos esperados junto os produtores nacionais". A razão para este decréscimo da superfície semeada é atribuída às más condições climatéricas do início do ano, "com o encharcamento dos terrenos a não permitir a realização das sementeiras."
Entre os diversos tipos de cereais de Inverno, é o trigo mole que apresenta o maior recuo - cerca de 15 por cento face ao ano anterior. Seguem-se o trigo duro, o triticale, o centeio e a cevada (menos 10 por cento do que em 2010) e a aveia (menos cinco por cento). As áreas semeadas este ano equivalem a cerca de metade do que tinha sido registado em 2006, para os casos do trigo mole e da cevada. O cenário não se afigura "auspicioso", após um ano de 2010 que foi "altamente des- favorável", alerta o instituto.
No boletim de Março, as boas notícias chegam da área do azeite. A produção total em 2010, de elevada qualidade, manteve o recorde que já tinha sido alcançado no ano precedente - 682 mil hectolitros. A produção de azeite em Portugal mais do que duplicou nos últimos cinco anos, dando assim resposta a um aumento substancial do consumo.
O azeite produzido apresenta acidez baixa e elevada qualidade, segundo o INE, embora o peso de azeitona necessária para produzir um litro de azeite (funda) tenha sido superior.
No ano passado, o índice de preços dos produtos agrícolas fechou em baixa, depois de ter atingido picos má- ximos no primeiro semestre. Os dados do INE evidenciam um recuo para os níveis alcançados no segundo trimestre de 2009. Apesar dos aumentos nos custos de produção (especialmente nas rações para animais), há muitas classes de produtos cujo preço se mantém praticamente idêntico ao registado há cinco anos.