Por Paulo Miguel Madeira, in Público on-line
A zona euro encaminha-se para uma ruptura, com a saída dos membros mais fracos, incluindo Portugal, com a actual abordagem à crise, segundo o economista Nouriel Roubini, que se notabilizou ao prever a crise financeira com origem na bolha imobiliária dos EUA.
Roubini vê como provável que o euro vá a caminho de soluções desordeiras para a dívida e com risco de ruptura da própria união monetária, pois as soluções que estão a ser adoptadas falharam na resolução dos problemas fundamentais da divergência no interior da zona euro, segundo explica num artigo de opinião publicado no Financial Times de hoje.
Este economista, co-autor de Economia de Crise (2010) e professor na Universidade de Nova Iorque, reconhece que “hoje, claro, a ideia de deixar o euro é tratada como inconcebível, mesmo em Atenas e Lisboa”, mas adianta que isso “pode não ser tão rebuscado” daqui a cinco anos.
Na sua perspectiva, a perda de competitividade na periferia da zona euro não poderá ser resolvida com as políticas actualmente adoptadas que visam recuperar competitividade. Dá o exemplo da Alemanha, que levou uma década a ganhar competitividade, para dizer que os países a braços com crises de dívida não têm esse tempo.
Quanto ao caminho da deflação, vista também como una abordagem ao problema da dívida (e que tem sido indirectamente sugerida em Portugal por alguns responsáveis), tem como contras “estar também associada a uma recessão persistente” e, mesmo se alcançada com sucesso, fazer aumentar o fardo da dívida, quer pública quer privada, em relação ao PIB.
Mesmo a redução ou reescalonamento da dívida, que “ajudará a resolver a questão do endividamento excessivo de algumas economias insolventes”, é visto como insuficiente para resolver o problema de fundo. Para Roubini, a “reestruturação da dívida vai acontecer, a questão é quando (mais cedo ou mais tarde) e como (ordenada ou desordenadamente).
Mas aqui a questão é que “mesmo a redução da dívida não será suficiente para restaurar a competitividade e o crescimento” e se eles não forem alcançados (presume-se que por outras vias) a opção pela saída do euro “tornar-se-á dominante”.
A solução dos problemas do euro teria sido a união económica e fiscal dos seus membros, mas o aprofundamento da união política ficou paralisada e a união orçamental exigira significativos recursos orçamentais federais e a emissão maciça de eurobonds, o que provavelmente os contribuintes do centro não aceitariam.
Já esta semana, Nouriel Roubini tinha sido também notícia por prever uma tempestade perfeita” de aflições orçamentais nos Estados Unidos, abrandamento económico na China, reestruturação da dívida europeia e estagnação no Japão podem combinar-se para afectar a economia mundial a partir de 2013.
Nessa ocasião, alertou também para que a resolução dos problemas da dívida pública e privada tem vindo a ser adiada e que tudo isto irá ter consequências “o mais tardar em 2013”.