6.12.11

Portugal é o mais castigado pela crise da dívida

Luís Leitão e Luís Rego, in Económico

Entre os três países intervencionados pela ‘troika’ Portugal tem sido o mais penalizado pela crise da dívida.

No princípio era apenas a Grécia a dor de cabeça da Europa. Meses depois, a tempestade da crise soberana bateu à porta de Dublin e Lisboa, alastrando posteriormente, sem piedade, até Madrid e Roma, transformando-se, em menos de dois anos, numa pandemia europeia.

Segundo cálculos do Diário Económico, as 557 emissões de dívida realizadas entre 2010 e 2011 por Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha geraram um agravamento acumulado de 36.855 milhões de euros nas contas dos respectivos países, face aos valores que pagaram em 2009 em emissões de dívida semelhantes.

No campeonato dos derrotados pela crise, Portugal revela-se o país mais penalizado entre as nações intervencionadas pela ‘troika' (Portugal, Irlanda e Grécia): só em 2010 e 2011, com a realização de 91 leilões de dívida, o Tesouro da República teve que contabilizar um encarecimento do custo de financiamento no mercado obrigacionista no valor de 919 milhões de euros. Mas a factura não fica por aqui: com base nas emissões de dívida realizadas nos últimos dois anos, Portugal assumiu ainda compromissos até 2023 que, face aos valores praticados em 2009, traduz-se num encarecimento adicional de 1.087 milhões de euros até essa data. Trata-se assim de um bolo superior a 2 mil milhões de euros, cerca de 190 euros por português ou 1,16% do PIB. Valores bem superiores aos apresentados pela Irlanda e Grécia.

No entanto, é importante salientar que a factura lusitana não é mais gorda porque desde 1 de Abril, cinco dias antes de Portugal ter sido resgatado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia, que Portugal não realiza qualquer emissão de dívida de longo prazo, apenas se limita a emitir bilhetes do Tesouro (dívida com maturidade inferior a 12 meses).

O preço da crise da dívida é também notório ao nível do mercado de ‘credit default swaps' (CDS) - instrumentos que medem o custo de segurar a falência do emitente de uma obrigação.

Segundo dados da consultora CMA Vision, o preço dos CDS sobre as obrigações do Tesouro dos países da zona euro disparou quase em uníssono. Porém, houve títulos que foram mais penalizados que outros. Por exemplo, enquanto os CDS sobre as obrigações a dez anos de Portugal valorizaram 929%, passando de 83 pontos base em 2009 para os actuais 853 pontos base, os CDS sobre os títulos do Tesouro alemão a 10 anos (‘bunds') subiram 195%, estando actualmente a cotar nos 117 pontos base. Em pior situação que Portugal só mesmo os CDS sobre as obrigações gregas, que escalaram uns impressionantes 3.697%, passando de 173 pontos base para os actuais 6.587 pontos base, no espaço de dois anos.

Em termos gerais, excluindo a situação extremada da Grécia, o preço de segurar um investimento de um eventual incumprimento de um dos países periféricos da zona euro quase que quintuplicou desde 2009. Ou seja, quando o sol nasce é igual para todos mas a uns bronzeia e a outros queima: enquanto Alemanha e Holanda têm beneficiado de condições de financiamento substancialmente mais favoráveis no mercado de dívida, desde 2009 que Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha têm vindo a debater-se com um forte agravamento do custo de financiamento nos mercados internacionais, como tem ficado evidente com a subida da ‘yield' das obrigações destes países, numa base quase diária.