19.12.11

Rede Europeia Anti-pobreza Portugal celebra 20 anos - «A pobreza não é um problema individual»

Texto Lucília Oliveira, in Fátima Missionária

«Se o combate à pobreza já era uma tarefa titânica no passado recente, os desafios que temos hoje pela frente quase nos fazem desacreditar nessa possibilidade»

«Uma existência de duas décadas merece ser assinalada sendo, acima de tudo, uma grande oportunidade para, olhando para o passado, preparar o futuro», salienta o responsável pela Associação de Solidariedade Social EAPN - Rede Europeia Anti-pobreza. As quase duas décadas de existência foram dedicadas à construção de bases sólidas para a concretização de três objectivos: «produzir e difundir conhecimento sobre o fenómeno da pobreza e da exclusão social; capacitar os diferentes actores para uma compreensão destes fenómenos e uma acção mais eficaz no combate aos mesmos; influenciar positivamente a definição e implementação de políticas que, paulatinamente, pudessem responder a estes fenómenos», salienta o presidente da instituição.

Numa mensagem a propósito deste aniversário, o padre Agostinho Jardim Moreira defende que o trabalho que a instituição tem pela frente é de «continuidade». Não se trata de fazer mais do mesmo, mas de «prosseguir» no trabalho de «erradicação da pobreza não como algo abstracto mas como forma muito concreta de restituir a dignidade às pessoas que se encontram nessa situação de violação dos mais básicos direitos humanos».

O combate à pobreza está no final de um ciclo «onde as desigualdades se aprofundaram, onde a democracia foi posta em causa e onde os cidadãos, à escala global, se encontram numa situação de vulnerabilidade quase sem precedentes». Torna-se imperioso um «novo paradigma», considera o sacerdote. Ou seja, é necessário que as políticas «possam ser de facto consequentes e estar ao serviço do bem-comum, que as mesmas sejam enformadas por valores à altura dos problemas que tentam enfrentar».

Entre esses valores, Agostinho Jardim Moreira aponta a «Justiça como fundamento da Dignidade; a Igualdade como regra de convivência; a Partilha como expressão da solidariedade; a proximidade como forma de ser humano». Aliás, «sem estes valores éticos básicos, aos quais convém acrescentar a verdade, o belo, a liberdade, as relações humanas estão seriamente comprometidas». Para ultrapassar as situações de pobreza «é imprescindível, quotidianamente, fazer nossos os problemas dos outros». O sacerdote realça que «a pobreza não é um problema individual e não existem inocentes». Todos devem concentrar esforços nesse sentido.