Luis Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo
Diferença entre taxa de desemprego europeia e portuguesa foi pior em 2012, 2013, quando vigorou o ajustamento do PSD-CDS e da troika.
A taxa de desemprego de Portugal, cuja estimativa provisória do INE aponta para 9% da população ativa em junho, está agora abaixo da média da zona euro, o que não acontecia há mais de 11 anos (desde início de 2006), indicou esta segunda-feira o Eurostat. De acordo com as estatísticas europeias, a taxa de desemprego média na zona euro baixou para 9,1%, ficando assim uma décima acima da portuguesa. Grécia, Espanha e Itália continuam a ter os maiores registos de desemprego da Europa, com 21,7%, 17,1% e 11,1%, respetivamente.
O fenómeno é menos intenso na República Checa (2,9%) e na Alemanha (3,8%). Como referido, durante mais de uma década Portugal teve um desemprego estruturalmente mais penalizador face ao que acontecia na Europa. Desde meados de 2006, que a situação se começou a degradar. Enquanto a taxa de desemprego média da zona euro tendia a melhorar, em Portugal ia em sentido contrário, tendo-se deteriorado rapidamente com as sucessivas crises que foram abalando a Europa, mas especialmente o país. Primeiro a crise dos bancos, que levou à nacionalização de vários e ao salvamento de fortunas às custas dos contribuintes (o argumento era que bancos muito pequenos, como o BPN, eram sistémicos), depois a crise da dívida soberana, que se começou a sentir em 2010, levando o país à bancarrota em 2011.
O ajustamento subsequente causaria danos severos no mercado de trabalho. O desemprego só não foi ainda maior porque muita gente emigrou, por exemplo. Mas os piores momentos do mercado de trabalho português foram em 2012, o primeiro ano de ajustamento completo do governo do PSD-CDS que aplicou o programa de ajustamento da troika, e o início de 2013. A diferença entre a taxa de desemprego desfavorável a Portugal atingiu máximos de 5,4 pontos percentuais em dezembro de 2012 e de 5,5 pontos em janeiro de 2013. Nesses meses marcados pela austeridade do programa do governo de direita, o desemprego chegou a um máximo histórico de 17,5% da população ativa, mostram as séries do Eurostat consultadas pelo Dinheiro Vivo.
Nessa altura, na viragem de 2012 para 2013, o país tinha mais de 909 mil pessoas sem trabalho. Hoje terá metade disso (cerca de 463 mil) segundo os dados do INE replicados pelo Eurostat. A situação continua a melhorar, como mostram os últimos dados sobre a criação de emprego. Portugal está agora melhor no desemprego face à média da zona euro, mas não face ao conjunto dos 28 da União Europeia, cuja média é significativamente inferior (7,7% em junho) por causa do maior dinamismo das economias do leste europeu. É o caso de República Checa, Hungria (4,3% de desemprego) ou Polónia (4,8%).