Joana Azevedo Viana, in Expresso
Traficantes obrigaram requerentes de asilo da Somália e da Etiópia a saltarem fora do barco em que estavam a ser ilegalmente transportados. Organização Internacional para as Migrações diz que há várias mulheres e crianças entre os 29 mortos e 22 desaparecidos
ma rede de tráfico humano que tem estado a transportar refugiados e migrantes pelo Golfo do Áden até ao Iémen forçou mais de 120 somalis e etíopes a saltarem borda fora esta quarta-feira, levando à morte de 29 pessoas e ao desaparecimento de outras 22 nas águas que banham a costa sul do Iémen.
A informação é avançada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), que em comunicado informe ter encontrado valas comuns com 29 corpos de migrantes numa praia na província de Shabwa, enterrados pelos que sobreviveram à travessia.
"Os traficantes empurraram deliberadamente os migrantes para a água porque temiam ser presos pelas autoridades [iemenitas] quando alcançassem a costa", disse o gabinete de emergência da OIM em Áden. Depois disso, "voltaram simplesmente para o sítio de onde vieram para traficar mais migrantes para o Iémen".
Segundo dados da organização, cerca de 55 mil pessoas já deixaram o Corno de África rumo ao Iémen desde o início do ano, na sua maioria em busca de emprego e estabilidade nos países do Golfo do Áden; a travessia marítima é particularmente perigosa nesta altura do ano por causa dos fortes ventos no oceano Índico.
No comunicado, a OIM também refere que "havia muitas mulheres e crianças entre aqueles que morreram e aqueles que ainda estão desaparecidos" desde a tragédia de quarta-feira. Estima-se que a média de idades dos tripulantes rondava os 16 anos.
O Iémen tornou-se a principal porta de entrada para as pessoas do Corno de África que fogem da pobreza extrema em busca de melhores condições de vida, apesar de o país ser o mais pobre do mundo árabe e de estar a braços com uma guerra civil, que já provocou mais de 10 mil mortos e 44.500 feridos desde março de 2015.
A destruição de muitas infraestruturas na campanha de bombardeamentos liderada pela Arábia Saudita – que está a apoiar o governo do Presidente Abed Rabbo Mansour Hadi contra os rebeldex hutis xiitas – também já conduziu a uma epidemia de cólera, que eclodiu em abril deste ano e que neste momento ameaça contagiar mais de um milhão de crianças.