Sandra Brazinha, in Jornal de Notícias
Formar os jovens do bairro da Bela Vista, em Setúbal, para que consigam arranjar trabalho é uma das metas do programa de combate à exclusão social e gestão de conflitos, criado para ajudar as quatro mil famílias ali residentes a combater a discriminação.
“23% desta população estava desempregada há quatro anos. Agora, a taxa deve rondar os 40%. Sem escolaridade e sem formação profissional, vão continuar sem trabalho”, justifica Carla Jeanne, presidente do Centro Cultural Africano, que se juntou a outros parceiros com o objectivo de dar aos habitantes daquele bairro uma oportunidade de vida.
Dezassete licenciados do bairro, actualmente desempregados, vão, por isso, receber formação de formadores para transmitir conhecimentos a outros moradores, num programa que conta já com 167 inscritos.
“Nós temos um problema de discriminação muito grande. As pessoas que são da Bela Vista não conseguem emprego. Só se derem outra morada”, realça a responsável, lamentando que as promessas feitas pelo Governo aquando dos confrontos ocorridos em Maio de 2009 não tenham sido cumpridas. “O bairro continua igual. Aliás, o povo da Bela Vista está à espera há 25 anos que as coisas mudem”, queixa-se ao JN.
A gestão de conflitos também será feita pelos próprios moradores. “Conforme os casos forem aparecendo iremos fazer o nosso trabalho. Estamos a pensar colocar no terreno 12 mediadores para prevenção e detecção de conflitos”, explica a responsável.
As sete situações de conflito, que estão actualmente a ser acompanhadas, estão todas relacionadas com discriminação, desde taxistas que se recusam a transportar pessoas ao bairro a um morador que aguarda há dois meses que lhe seja entregue um electrodoméstico. “São focos de conflito que têm logo de ser resolvidos porque podem originar problemas maiores”, avisa Carla Jeanne.
O alerta é corroborado pelo Sindicato dos Profissionais de Polícia, parceiro do programa. “Devia-se desenvolver muito trabalho de prevenção”, defende o presidente António Ramos, prevendo que o gabinete de mediação de conflitos conte com pelo menos dois agentes em contacto directo com o bairro.
O programa, que irá abranger escolas, bombeiros e associações locais, contempla ainda a possibilidade de acesso ao microcrédito para quem queira investir e criar o próprio emprego.