por Luís Naves, in Jornal de Notícias
Presidente quer retirar a nacionalidade a delinquentes com "origem estrangeira".
O endurecimento da política de segurança de Nicolas Sarkozy está a provocar reacções negativas em França. O Presidente propôs privar da nacionalidade francesa todas "as pessoas de origem estrangeira" envolvidas em crimes contra a ordem pública. E um novo embaraço de acção policial está a passar nas televisões do mundo.
Ontem, a oposição não poupou palavras para denunciar o Presidente, cujas iniciativas foram consideradas "xenófobas". Os socialistas foram os mais críticos, denunciando o conceito de francês de origem estrangeira. "Não existem franceses desde há muito tempo e franceses desde há não tanto tempo", explicou um dirigente do PS, Jean-Jacques Urvoas.
O único elogio veio da Frente Nacional, cuja vice-presidente, Marine Le Pen, afirmou que as medidas contra delinquentes de origem estrangeira apenas confirmam as teses que o partido de extrema-direita defende há 30 anos.
No meio da chuva de críticas, as autoridades foram de novo postas em causa com a difusão de um vídeo onde se mostra a expulsão musculada de um grupo de activistas que ocupava ilegalmente um edifício em La Courneuve, subúrbio de Paris. As imagens mostram certa violência contra mulheres e crianças, incluindo uma manifestante que tem uma criança às costas e é arrastada pelos agentes, vendo-se nitidamente a criança a ficar debaixo da mulher.
A entidade que organizou a manifestação, Direito à Habitação (DAL) acusa a polícia de estar a agravar a violência. Neste incidente foram detidas 120 pessoas, libertadas pouco depois. Um aspecto parece evidente: o governo está a fazer uma aposta total nas medidas contra a delinquência e Sarkozy deverá usar o tema para recuperar nas sondagens.
Na sexta-feira, em Grenoble, Sarkozy fez um importante discurso sobre segurança e apresentou a proposta sobre nacionalidade francesa que instalou definitivamente a polémica: "A nacionalidade francesa deve poder ser retirada a todas as pessoas de origem estrangeira que tenham voluntariamente atentado contra a vida de um funcionário de polícia, de um militar ou de um gendarme ou de qualquer outra pessoa depositária da autoridade pública". Esta ideia será provavelmente transformada em lei já em Setembro.
No mesmo discurso, o Presidente prometeu lançar "uma guerra contra os traficantes e os vadios". Esta semana, o governo francês já anunciara a intenção de desmantelar em três meses metade dos acampamentos ciganos ilegais e expulsar os roms (ciganos balcânicos) envolvidos em delinquência. "Temos de pôr termo à implantação selvagem de acampamentos roms. Eles constituem zonas de não-direito que não podemos tolerar na França", disse ainda o presidente. A escolha de Grenoble para este discurso deve-se à ocorrência de graves incidentes naquela cidade, envolvendo membros da comunidade cigana.
A aposta política em torno do tema da segurança pode ser interpretado no âmbito das eleições presidenciais de 2012. Sarkozy tem caído fortemente nas sondagens e na direita francesa cresce o desafio colocado pela ala do antigo primeiro-ministro Dominique de Villepin. Alguns deputados da maioria vão organizar um grupo parlamentar paralelo e podem jun- tar-se ao partido de Villepin, que tem pontes para os centristas. E a segurança é importante para o eleitorado da extrema-direita, que Sarkozy sempre cativou. Mas a razão mais forte da iniciativa talvez seja a lembrança dos motins de 2005, onde Sarkozy, então ministro do Interior, estabeleceu a sua reputação de político que resolvia os problemas dos franceses menos privilegiados, os que mais sentiam a violência dos subúrbios.