Por Amanda Ribeiro, in Jornal Público
Grupo de Intervenção do Porto - GIP quer "alertar as pessoas" e os "investidores" para a realidade das casas devolutas da cidade
Calcorreiam as ruas do Porto, noite dentro, de escadote debaixo do braço e placas - roupas - de cartão. São poucos, há que ser discreto. Quando um sobe a uma varanda, os restantes estendem as t-shirts, calças, cuecas, toalhas. Numa das peças está pintado o símbolo da okupação e a palavra "já". Não são incrivelmente rápidos, nem exageradamente lentos. Apenas seguem o seu propósito: "Queremos alertar as pessoas, mostrar a quantidade de edifícios abandonados que a cidade tem e o desperdício que é estas casas estarem assim", conta Mariana, membro activo do projecto "Porto Abandonado", a primeira iniciativa do GIP - Grupo de Intervenção do Porto.
A ideia surgiu há cerca de três meses, no seio de um grupo de doze amigos, ligados a várias áreas artísticas. Entre eles, Mariana e Susana, que, depois de viverem em Barcelona e frequentarem diversas okupas (casas desabitadas, ocupadas ilegalmente, com o objectivo de fomentar actividades sociais e culturais), nunca mais olharam da mesma maneira para os edifícios devolutos do Porto. "Lá [em Barcelona] uma pessoa vê a forma como se lida com a questão das casas abandonadas, [vê] os projectos que saem dessa tentativa de melhorar. E aqui ninguém faz nada!", lamentam.
A eficácia do protesto
Por isso, saíram à rua, seleccionaram edifícios, imprimiram "mais de quarenta folhas do Google Maps" e cortaram roupas em cartão encontrado na rua. Uma escolha curiosa? Nem por isso. "A roupa a secar nos estendais é um elemento tipicamente português e dá a ideia de que há pessoas a habitar a casa". Por fim, o símbolo da okupação e a palavra "já". Não para lançar polémica ou incitar a revolta, até porque o grupo não é defensor do ideal anarquista em que as okupas se integram. "É um símbolo. O movimento okupa mostra que pode haver pessoas que querem fazer algo de bom. Não são só punks que vão para ali beber e destruir tudo. Estamos a mostrar o outro lado." No Porto, o único exemplo semelhante a esta ideologia é a Casa Viva (ver texto ao lado).
Para além do trabalho de rua, o grupo construiu um site (htttp:/www.portoabandonado.com), onde são sinalizadas as casas que já sofreram intervenção - sete até agora - e se pode ver ainda os exemplos inspiradores do GIP. É verdade que, em alguns edifícios, a roupa foi retirada ou levada pelo vento, o que pode causar dúvidas quanto à eficácia do protesto. "Nós não queríamos entrar dentro das casas, estaríamos a violar a própria propriedade e poderia ser perigoso porque alguns estão mesmo em mau estado", justifica Susana. A essência é, salientam, "chamar a atenção" da população e até de "investidores". "Se não fizermos nada, é que nada acontece!" Daqui a uns meses, pode surgir um "outro tipo de intervenção", até mesmo noutra área. Afinal, "há tantos problemas no Porto...