Por Raquel Martins, in Jornal Público
Os portugueses são, entre os cidadãos europeus, os que mais contestam as medidas de austeridade para combater o défice das contas públicas, embora faça parte dos Estados-membros que maior esforço terão que fazer nos próximos anos para pôr ordem nas suas contas públicas e respeitar o limite de três por cento imposto por Bruxelas.
De acordo com o Eurobarómetro ontem divulgado, a esmagadora maioria dos europeus (74 por cento) considera que as reformas para reduzir o défice dos países não podem ser adiadas, mesmo que impliquem sacrifícios para as gerações actuais, mas os portugueses destoam.
Confrontados com a frase "as medidas para reduzir os défices públicos e a dívida não podem ser adiadas", 59 por cento dos portugueses subscrevem a afirmação - a segunda percentagem mais baixa a seguir à Roménia, enquanto 22 por cento se insurgem contra essa política, a percentagem mais elevada entre todos os países da UE.
Tudo isto, depois das fortes medidas de contenção aprovadas pelo Governo de José Sócrates - que levaram ao aumento de impostos e à redução dos apoios sociais - numa tentativa de reduzir o défice dos 9,4 por cento registados em 2009 para um nível abaixo dos três por cento.
Os resultados do Eurobarómetro mostram ainda que a crise e os receios em torno da estabilidade da zona euro deixaram sequelas na confiança em relação à União Europeia (UE) e aos benefícios da adesão. De uma forma geral, o apoio à participação na UE caiu de 53 para 49 por cento. E mais uma vez os portugueses estão entre os que mais reduziram a sua apreciação em relação às vantagens de estar na UE. No inquérito de Outono de 2009, 64 por cento diziam que a participação na organização era benéfica para o país, mas agora são já só 54 por cento, ainda assim acima da média europeia, que é de 53 por cento.
Entre as principais preocupações dos europeus continua a figurar o desemprego, à frente da situação económica e do crime. Os resultados do Eurobarómetro resultaram de entrevistas pessoais feitas a 26.641 pessoas nos 27 Estados-membros da UE, realizadas entre 5 e 28 de Maio de 2010.