Tiago Rodrigues Alves, in Jornal de Notícias
Aos 16 anos Ângela "deu o salto" para fugir ao trabalho no campo em Espadanedo, Macedo de Caveleiros. Foi apanhada em Espanha, mas graças a um B.I. falso conseguiu ir ter com o irmão a França.
Ironicamente, foi trabalhar na agricultura em Le Mans. Voltou à terra pouco depois. Casou aos 18 para sair de casa. Quando o marido regressou de Angola foram os dois, com uma filha de 10 meses nos braços, para França. Ficaram lá 30 anos e tiveram mais um filho.
Reunido o pé-de-meia, deixaram lá os dois filhos e voltaram à aldeia. Construíram uma casa e abriram um café/restaurante no piso térreo. Os primeiros dois anos "marcharam bem", recorda. O pior veio depois. Os clientes escasseavam e as burocracias e impostos não perdoavam. Sete anos depois de ter regressado à terra de vez, pensava na altura, Ângela foi passar um Natal a França e decidiu ficar por lá a trabalhar outra vez.
"Trabalhei tanto, para enterrar tudo aqui, e não gozo nada", diz Ângela, com alguma revolta enquanto olha para a casa. "Volto porque os meus filhos querem vir de férias e é um mês para esquecer o trabalho", justifica. Mas, excepto nas férias, só pensa voltar quando se reformar, "para não chatear os filhos".
Ao passear pelas ruas da aldeia, agora semiabandonada, Ângela não consegue esconder tristeza. "Os velhos foram morrendo, os da minha idade foram embora, Só nos encontramos nas férias. Durante o resto do ano há só ciganos e alguns velhos à espera da morte", explica. As casas que foram sendo abandonadas foram compradas por pessoas de etnia cigana que, à excepção de Agosto, são praticamente as únicas com menos de 70 anos a morar em Espadanedo. "É uma tristeza não ver aqui ninguém", confessa, mas compreende. "Falta trabalho e nem sequer há transportes para Macedo. Quem é que quer ficar aqui? Em França há trabalho e os salários são melhores".
Se fosse hoje nunca teria feito a casa na aldeia. "Mesmo que fosse uma mais pequenina, fazia como os meus filhos, comprava uma casa em França e deixava-me lá ficar."