R.O., in Jornal de Notícias
Aprendi a escrever na lousa de ardósia, usei lápis de grafite, continuei com pena de aparo e caneta de tinta permanente, habituei-me à esferográfica, utilizei a máquina de escrever, inclusive a eléctrica, e agora prefiro o computador. Sou um autodidacta na nova tecnologia digital.
Com tantas técnicas e tecnologias avançadas, escrevo nos jornais há mais de 40 anos. Já me aconteceu manchar algum texto com gralhas. Algumas gralhas, além de ridículas, são autênticas anedotas, como aquelas que um dos meus chefes de Redacção coleccionava para gáudio de todos nós. Faziam-nos rir, mas aprendíamos a escrever.
Um dia destes, escrevi nesta página dominical, que já conta com 25 anos de publicação, para protestar contra o Governo francês por expulsar imigrantes ciganos vindos do Leste europeu, remetendo-os à origem como indesejáveis.
Alguns leitores do JN online não gostaram do meu protesto e indignaram-se com uma gralha que me escapou. Quis escrever "camião" e saiu-me, calculem!, "caminhão". Foi o suficiente para que os meus críticos me acusassem de "ignorante" e de "cigano" analfabeto, incapaz da 4.ª classe!
Não vou dizer-lhes que o dicionário da Porto Editora, na 8.ª edição de 1998, regista "caminhão" remetendo para "camião". Afinal, não foi a gralha que lhes provocou a chacota, mas a defesa dos ciganos.
Estou a praticar ioga, para ver se evito acordar, um dia destes, aflito com algum pesadelo. Não me sai do pensamento que também ciganos foram queimados nos campos de concentração do nazismo…
Sou um "cigano" ignorante, que, da Primária à Universidade, nem a 4.ª classe conseguiu fazer! Ainda escrevo "caminhão"!