1.3.11

Alemanha recusa flexibilizar apoios a países em dificuldades financeiras

in Jornal de Notícias

O ministro das Finanças da Alemanha defendeu esta segunda-feira a aplicação dos valores de mercado às taxas de juro para os empréstimos à Grécia e à Irlanda, rejeitando fazer cedências que beneficiem os países em maiores dificuldades orçamentais.

"Não podemos recuar a partir desta condicionalidade. Isso seria o fim da fundação que nós construímos para a moeda europeia. É por isso que o governo alemão não está pronto para fazer qualquer compromisso sobre esta questão", disse Wolfgang Schaeuble, em Estugarda, citado pela agência de informação financeira Bloomberg, na mesma semana em que o primeiro-ministro, José Sócrates, vai reunir-se com a chanceler alemã precisamente com este tema na agenda.

As declarações do responsável vincam bem a reticência dos alemães em permitir mecanismos de flexibilização do fundo como aqueles que são defendidos, entre outros, pelo Governo português, e que passam, por exemplo, pela redução das taxas de juro cobradas nos empréstimos ou a possibilidade de o fundo de resgate europeu poder actuar nos mercados primário e secundário da dívida pública.

A posição da Alemanha, que defende também o aumento da competitividade dos países periféricos da zona euro, surge na sequência do falhanço de um acordo no seio da União Europeia com vista a uma maior coordenação económica, redução dos défices ou alterações no fundo de resgate europeu, deixando o país liderado por Angela Merkel num impasse na véspera de duas cimeiras destinadas a estabelecer uma estratégia para a saída da crise da dívida e uma tentativa de estabilizar o euro, até 25 de Março.

A pressão sobre a chanceler alemã para facilitar os termos de resgate pode aumentar, depois do partido irlandês de Fine Gael ter vencido as eleições de domingo. A 22 de Fevereiro, também o primeiro-ministro grego, George Papandreou, fez um apelo semelhante a Merkel, em Berlim, a que se juntam algumas pretensões portuguesas.

Entre as atribuições que o Governo português defende para o futuro mecanismo está o aumento da capacidade financeira para os 500 mil milhões de euros e a possibilidade de fazer empréstimos directos aos Estados. No dia 15 de Fevereiro, Teixeira dos Santos, à entrada para uma reunião dos ministros das Finanças da zona euro, disse que "é muito importante a possibilidade de intervenção no mercado da dívida, quer no domínio do chamado mercado primário, quer mercado secundário, bem como a possibilidade de efectuar operações de empréstimo aos Estados-membros".

Relativamente aos empréstimos, o governante defendeu que haja "diferentes modalidades, desde empréstimos que possam estar enquadrados num programa como aqueles que estão agora a ser utilizados para a Grécia e para a Irlanda até pura e simplesmente a abertura de linhas de crédito, à semelhança por exemplo do que o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz, só que neste caso seria um instrumento europeu e em condições de financiamento não sejam tão onerosas como aquelas que estão a ser praticadas actualmente".