Por Sérgio Aníbal e Isabel Arriaga e Cunha, em Bruxelas, in Jornal Público
Bruxelas está a perspectivar, nesta fase, uma diferença de 2,6 pontos percentuais entre a taxa de crescimento da média da zona euro e de Portugal. A maior divergência desde 1984
Se as actuais previsões de crescimento para 2011 da Comissão Europeia se concretizarem, passará a ser necessário recuar até 1984 para encontrar outro ano em que a economia portuguesa tenha perdido mais terreno face à média dos seus parceiros do euro.
Ontem, Bruxelas reviu ligeiramente em alta as suas previsões de crescimento para a zona euro, passando-a dos 1,5 por cento avançados há três meses para 1,6 por cento agora. Portugal, de acordo com as estimativas da Comissão fei- tas no final de 2010, registará um recuo do PIB de um por cento.
As previsões divulgadas têm em conta a evolução esperada nas sete maiores economias europeias - Alemanha, Espanha, França, Itália, Holanda, Polónia e Reino Unido, que representam cerca de 80 por cento do PIB europeu. Bruxelas aponta para um crescimento da economia de todos estes países superior às projecções de Novembro, com excepção da Itália, que mantém os mesmos 1,1 por cento, e do Reino Unido, que cai de 2,2 para dois por cento.
Em contrapartida, a Alemanha continuará a ser o motor da retoma, com um crescimento de 2,4 por cento (contra 2,2 por cento em Novembro), seguida, em menor escala, de França e Holanda, ambas com 1,7 por cento (contra 1,6 por cento e 1,5 por cento, respectivamente, há três meses).
Já o crescimento da actividade em Espanha não deverá ir além de 0,8 por cento, uma décima superior às anteriores previsões.
Finalmente, a Polónia, a maior eco- nomia, juntamente com o Reino Unido, dos países exteriores à zona euro analisados, terá um crescimento de 4,1 por cento, mais três décimas que em Novembro.
Estas diferenças entre os países analisados ilustra, reconhece a Comissão, o carácter desigual da retoma no espaço europeu, resultante sobretudo do facto de que "alguns estados atravessam um período de ajustamento difícil".
E, neste capítulo, Portugal está claramente entre os perdedores. Nas previsões feitas há três meses, Bruxelas colocou a economia nacional apenas melhor que a Grécia no ranking de crescimento da zona euro. Com os números actuais, Portugal registará uma taxa de crescimento real da economia 2,6 pontos percentuais inferior à da média da zona euro. Durante esta década, o pior resultado registado foi o diferencial de 1,6 pontos registado em 2006. Nas últimas décadas, apenas em 1984, ano em que Portugal teve de recorrer a um empréstimo do FMI, a diferença foi maior (3,4 pontos).
É óbvio que um desempenho forte de uma parte da economia europeia tem alguns efeitos positivos sobre a outra que está a crescer menos. O problema é que estas grandes diferenças de ritmo de crescimento que se estão a perspectivar na zona euro (afectando, além de Portugal, também Grécia, Irlanda e Espanha) colocam um dilema àqueles que têm de definir a política económica europeia.
O Banco Central Europeu pode ver-se numa situação em que os indicadores globais da zona euro aconselham uma subida das taxas de juro, mesmo sabendo que há países, como Portugal, em que esse eventual agravamento dos juros é indesejável nesta fase.
Impacto em Portugal
Ganhos e perdas com aceleração europeia
Vantagem - Com algumas das economias mais poderosas da Europa a acelerar, Portugal vê alguns dos seus principais mercados destino das exportações a crescer. A Alemanha, que deverá registar uma taxa de 2,4 por cento, é o exemplo mais claro.
Desvantagem - O BCE, ao definir as taxas de juro, tem de olhar para a situação global da zona euro. Com a economia da moeda única a crescer e a inflação a subir acima dos dois por cento, um cenário de subida de taxas de juro volta a ser provável. Para Portugal, isto significaria mais um peso nos orçamentos das famílias e das empresas e uma quebra adicional da procura interna.