23.5.11

Pensar nos pobres

in Correio de Manhã

Os últimos dias foram férteis em "faits divers" que, se por vezes nos entretêm os ócios, têm a desvantagem de nos distrair de questões mais importantes. Uma delas é a degradação que vai penetrando o tecido económico europeu e que é obviamente preocupante, embora a esperança continue a inspirar as negociações destinadas a inverter a situação por via dos mecanismos multilaterais da comunidade internacional.

Entretanto, é notória a forma como diversas personalidades influentes e experientes começam a revelar as suas inquietações a um nível mais académico. Será caso para se falar já não de eurocepticismo, mas de europessimismo. No fundo, trata-se apenas de uma pergunta: como foi possível chegar a esta situação? Ora a resposta não se reduz a processos de culpabilização deste ou daquele governante.

Sendo assim, a questão torna-se mais complexa pois obriga-nos a encarar problemas que não se resolvem apenas com os mecanismos clássicos de solidariedade. Nessa perspectiva, a dúvida está em saber se a Europa pode manter os níveis de crescimento até aqui alcançados. A pobreza absoluta continua a imperar e não parece que tenda a diminuir. Uma das suas consequências são os crescentes fenómenos migratórios. Será que o modo de vida europeu beneficiou até aqui de uma ordem mundial injusta?