Por Ana Henriques, Victor Ferreira, in Público on-line
As dificuldades na obtenção de crédito bancário para a compra de casa estão a matar a construção de habitação barata em Lisboa, cidade em que o preço médio dos novos fogos subiu para 497 mil euros em 2010.
No ano passado, a oferta de casas a estrear cresceu 16 por cento, segundo um estudo da consultora Aguirre Newman, que foi revelado ontem, mas o preço médio desta oferta não é para qualquer carteira: ronda os 3450 euros por metro quadrado. Um valor que dispara nas zonas consideradas mais nobres.
Nas Amoreiras, Lapa, Chiado e Santos o preço de uma casa quase duplica em relação à média da cidade, atingindo os 848 mil euros. As zonas de Belém e do Restelo, as segundas mais caras, não lhe ficam muito atrás: 811 mil euros. Quem quiser comprar mais barato tem de rumar a Marvila, ao Beato e ao Alto de S. João, onde os apartamentos novos rondam os 260 mil euros. A Alta de Lisboa também tem casas em conta. O melhor lugar para encontrar casas mais pequenas, estúdios e T1, é no Parque das Nações. Em Benfica, Telheiras, Campolide e nas Avenidas Novas concentra-se a oferta das tipologias maiores.
O presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (Apemip), Luís Lima, diz que o segmento médio-alto registou, apesar de tudo, vitalidade, graças também ao facto de a banca ainda ajudar a financiar casa para os compradores com poder de compra.
O problema, refere Luís Lima - cuja associação representa 3200 empresas, ou seja, 93 por cento do sector em Portugal -, é que, ao recusarem crédito a pessoas com menor poder de compra, a banca promove indirectamente uma aposta na construção de habitação mais cara por parte dos promotores imobiliários.
A alternativa do arrendamento com opção de compra - que permite abater as rendas pagas no valor de aquisição do imóvel - ganhou alguma quota, diz a consultora. Mas segundo o presidente da Apemip, a sua expressão é residual, situando-se entre os quatro e os 4,5 por cento. "É uma pena não ser mais usada, porque é uma boa solução tanto para quem procura casa, como para quem quer vender", salienta Luís Lima. Porém, esta mensagem "não tem passado".
Maioria são T2 e T3
Segundo o estudo da Aguirre Newman, a nova oferta de casas no concelho de Lisboa assentou, em 2010, em T2 e T3, com áreas médias de 144 metros quadrados. Em relação ao ano anterior (2009), o preço por metro quadrado nas novas construções ficou praticamente igual (3450 euros em 2009, contra 3446 euros em 2010). Mas como a área média das casas novas aumentou (136 metros quadrados contra 144 em 2010), subiu também o preço médio das casas (de 471.189 euros para 497.156 euros).
A Apemip antecipa uma mudança de cenário a partir deste ano. Aliás, como o PÚBLICO noticiou na semana passada, o mercado registou em Abril a maior queda de que há memória na venda de casas, com uma contracção de 19,7 por cento em relação a Março. A diminuição do número de negócios em 2011 pode conduzir a outro aumento, o do tempo médio que as novas habitações demoram a serem vendidas: em 2010, foi de 4,4 anos no concelho de Lisboa, contra quatro anos em 2009. A Alta de Lisboa e o Parque das Nações foram, no ano passado, os locais onde as casas novas mais esperaram para serem habitadas.