in Jornal de Notícias
Em Portugal existem mais de cinco mil milhões de euros incobráveis e o Estado é a entidade que mais tempo demora a pagar as facturas, segundo um estudo divulgado.
De acordo com a empresa de gestão de crédito e cobranças Intrum Justitia, que inquiriu seis mil empresas em 25 países europeus, em 2010 aumentaram em 14% as facturas incobráveis em Portugal, isto é, facturas que chegam ao fim do ciclo de vida sem serem pagas.
O inquérito concluiu que, em Portugal, os incobráveis atingiram os 3,3% (acima da média europeia de 2,7%), correspondente a cerca de cinco mil milhões de euros em facturas incobráveis.
Ao todo, na Europa, há mais de 312 mil milhões de euros de dívidas incobráveis, o que segundo o estudo, é mesmo "superior aos pacotes de ajuda externa a Portugal, Grécia e Irlanda", ainda que o comportamento seja diferenciado entre países.
Se na Alemanha, o valor dos incobráveis caiu oito por cento em 2010, já na Inglaterra os incobráveis subiram 33%.
Quanto ao Índice de Risco de Pagamentos (IEP), a Intrum Justitia posiciona Portugal na 24.ª posição entre os países com o risco de pagamento mais elevado, logo atrás da Grécia.
Depois de vários anos em que Portugal ocupou sucessivamente a última posição, a deterioração da situação helénica levou a uma aparente melhoria da posição de Portugal neste 'ranking', ainda que o valor do país no índice se tenha agravado (de 185 para 186).
Segundo Luís Salvaterra, Diretor-geral da Intrum Justitia Portugal, este agravamento relaciona-se com a crise económica que o país atravessa.
"Problemas nos pagamentos são estruturais em Portugal, mas agravam-se quando a economia está mal. As medidas tomadas em termos de restrição à economia, caso do aumento dos impostos ou da redução do rendimento disponível, fazem com que os pagamentos sejam efectuados mais tarde", afirmou o responsável na apresentação do estudo.
Em Portugal, em média, as empresas portuguesas atrasam os pagamentos em 41 dias e os particulares em 34 dias. No entanto, o Estado é mesmo a entidade que paga com mais atraso, em média 82 dias.
"Isto faz com que todas as empresas que se relacionam com o Estado tenham grandes dificuldades em solver os seus compromissos, o que cria um efeito de bolsa de neve. Se uma empresa não recebe a tempo, não paga a tempo", afirmou Luís Salvaterra, acrescentando que "num momento de restrição dos crédito bancários, receber a tempo e horas é fundamental para a sobrevivência das empresas".
Ainda em relação aos pagamentos com atraso, o estudo avança que em Portugal 31% dos pagamentos são recebidos a mais de 90 dias, num agravamento de 48% face ao ano anterior e que um aumento do tempo que as facturas ficam por pagar agrava a cobrança da dívida.
Em Portugal, 53% dos inquiridos esperam 137 dias para recorrerem a entidades externas, como a Intrum Justitia, para cobrar as dívidas.