1.10.11

PME. Sem financiamento muitas empresas morrerão até 2013

Por Isabel Tavares, in iOnline

O provérbio “em casa que não há pão todos ralham e ninguém tem razão” nunca foi tão verdade. As empresas precisam de dinheiro. A banca não tem. O Estado quer que os bancos utilizem os 12 mil milhões que a troika destinou para capitalizar o sistema bancário. Os bancos querem que o Estado pague o que lhes deve.

“No impasse que estamos é que não podemos continuar”, disse ontem o presidente da AIP - Associação Industrial Portuguesa, José Eduardo Carvalho, durante um fórum de pequenas e médias empresas. “Se a melhor solução é a recapitalização dos bancos através de capitais públicos ou o reembolso dos empréstimos concedidos ao sector público”, tanto faz. “O que é preciso é que se faça”, ou todo o esforço que as empresas fizeram para melhorar as suas competências vai por água abaixo. “Sem financiamento as nossas empresas não sobreviverão até 2013”, garante José Eduardo Carvalho.
Mas o consenso parece estar longe, como revelou o debate entre empresários e responsáveis da banca, sobre como financiar a economia em 2012. Cada um apontou o dedo ao vizinho do lado.

O presidente do BIC, Mira Amaral, propõe que o Estado pague os 40 mil milhões de euros que as empresas públicas devem aos bancos. “Mesmo com o trabalho de casa bem feito, não vamos conseguir sozinhos chegar aos mercados em 2013”. E os 12 mil milhões vão ser necessários para dar garantias aos depositantes, que têm que sentir que o seu dinheiro está seguro, e não para financiar projectos de investimento.
O presidente do Fórum para a Competitividade, Pedro Ferraz da Costa, disse que “fomos muito mal governados nos últimos anos e estamos a sofrer as consequências todas de uma vez.” E lembra o negócio do BPN, o banco que, à beira da falência, foi nacionalizado e agora vendido ao BIC. Mira Amaral não resiste à explicação: o que o accionista compra é o banco “mas não paga as dívidas, o passado fica com os credores e com o antigo dono.”
O vice-presidente do Millennium, António Ramalho, admite que as restrições ao crédito são uma inevitabilidade e que há excesso de endividamento em todos os sectores. “O sacrifício vai ter que ser repartido e bem repartido”, diz. E aproveita para lançar o isco: como a banca tem mais depósitos que créditos e essa diferença é quase o valor do crédito à habitação, “temos que reforçar junto do Banco Central Europeu as obrigações hipotecárias”.

É que, como diz Mira Amaral, “Portugal está no euro em termos de taxa de câmbio, mas não em termos de taxa de juro.” Nunca o dinheiro se pagou tão caro.