29.10.11

Presidente da Rede Anti-pobreza critica Igreja por não ir "além de dar o euro"

in Jornal de Notícias

O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza "há 20 anos", padre Jardim Moreira, considerou, este sábado, que o "empobrecimento, neste momento, "é inevitável" e criticou ainda a Igreja por não ir além de "dar o euro" aos que são pobres.

"A Igreja devia estar mais capaz de se inserir na mudança da sociedade e às vezes fica também a dar o euro e pouco mais e isso não chega", disse Jardim Moreira à comunicação social, no final de uma conferência sobre o tema "Do sonho europeu à realidade da crise: os novos pobres", promovida pela Universidade Lusófona do Porto.

O pároco disse que "o cristão é que aquele que ama o seu próximo, não lhe dá um euro, e se interessa pela solução dos problemas do seu semelhante, não é pela manutenção do pobre, e na sua dependência".

Jardim Moreira afirmou ainda que, na luta contra a pobreza, "a Igreja tem metido muita água" e acrescentou haver "bispos" que já lhe deram respostas "estúpidas" sobre essa mesma questão.

Sobre o tema que o levou até à Lusófona, o responsável começou por referir que "a Europa enfrenta neste momento a pior crise desde os anos 30 do século passado", o crescimento económico e o emprego caíram e "a percentagem dos novos pobres tende a aumentar cada dia".

"Portugal sofre também as consequências directas de um sistema capitalista selvagem ou neoliberal, que levou a que os nossos governantes deixassem de governar, mas sim a governarem-se", apontou.

Jardim Moreira afirmou que "o país, mais do que de tanga, está na miséria e a taxa de desemprego irá agravar-se e quebrar a fasquia dos 13%, em grande medida devido aos efeitos recessivos das medidas de austeridade".

"Ouvi peritos dizer que pelo menos estes dois últimos anos foram de uma grave irresponsabilidade de governação. Os responsáveis por esta situação deviam ser responsabilizados e pedir-lhes contas do que andaram a fazer com o dinheiro do bem público", sustentou.

O presidente da REAP considera que "o empobrecimento, "neste momento, é inevitável, tendo acrescentando que "vai certamente passar por ter de cortar muitas despesas secundárias".

"Não há solução à vista porque não há rendimentos, portanto, como temos vivido acima das nossas capacidades e da nossa riqueza, vamos ter de viver com a realidade natural de cada pessoa, de cada família e do país", resumiu.

A solução para o problema não é o "assistencialismo", no seu entender.

"Manter a pessoa no assistencialismo é ofendê-la e humilhá-la", disse, citando o actual Papa, Bento XVI, porque a "obriga estar constantemente de braço estendido a pedir aquilo a que tem direito".

Jardim Moreira considerou que há instituições, em Portugal, que praticam assistencialismo, tendo mencionado o Banco Alimentar Contra a Fome, "porque é mais cómodo e têm depois uma certa projecção sobre os fracos".

"É equívoco chamar luta contra a pobreza àquilo que é assistencialismo", argumentou.

No Governo actual, o responsável encontra "duas coisas" positivas, embora com "alguma reserva: em primeiro lugar, "fala verdade e isso é importante" e, em segundo, "aposta na dignidade das pessoas".