in Jornal de Notícias
Duas dezenas de activistas da Acampada de Coimbra integraram-se, esta terça-feira, no Cortejo da Latada dos estudantes para reforçar a crítica social num evento académico este ano muito marcado pelas mensagens de protesto.
O grupo da Acampada incorporou-se no cortejo a meio, entrando não na tradicional Praça D. Dinis, mas na Praça da República. Com a faixa na fronte do grupo onde se podia ler "Ensino Superior público e gratuito", vários membros empunhavam cartazes de cor parda, contrastando com os garridos dos restantes, ilustrativos das faculdades da universidade.
"Um escravo feliz é o pior inimigo da liberdade", "Da indignação à acção" e "Respeitem as pessoas, os bancos não" eram algumas das mensagens que ostentavam.
O grupo da Acampada, que desfilava silenciosamente, em contraste com os restantes colegas, ia chamando a atenção a quem nas bermas das ruas assistia ao cortejo.
Uma "doutora dizia" para um acompanhante: "isto não é tradição". Um jovem, parafraseando a mensagem de um cartaz comentava: "Propinas zero? Então vou para a faculdade".
Contrariamente ao que anunciaram, o grupo da Acampada não desmobilizou na Praça 8 de Maio, onde habitualmente realizam as assembleias populares, tendo optado por seguir o cortejo, já muito compacto, pelas ruas da Baixa.
O cortejo, que começou cerca de duas horas depois das 15:00 previstas, foi aberto pela Associação Académica de Coimbra (AAC), com o presidente da Direcção Geral Eduardo Melo a empunhar um cartaz com uma foto do ministro da Educação, Nuno Crato.
Logo a seguir, uma grande faixa negra referia "864 milhões de cortes na Educação". " volta, seguiam alguns estudantes com uma caixa de "esmolas" ao pescoço.
Embora o ambiente fosse de festa, e os protagonistas os "caloiros" vestidos de forma grotesca e arrastando latas, o cortejo deste ano assumiu um forte pendor crítico, visível, quer em faixas, quer em dizeres inscritos nas próprias vestes.
"Quem quer casar com a carochinha nesta sociedade que se afunda na crise", perguntavam uma estudante, enquanto outras ostentavam: "Prisioneiras da crise" e "Pipi das propinas altas".
Num "veículo" da Faculdade de Economia, movido à força motriz de caloiros, formado pela junção de vários carrinhos de compras, e adornado de latas de cerveja e garrafões de vinho, e com vários "doutores" em cima, podia ler-se "Escudo volta, estás perdoado".
As 'latadas' remontam ao século XIX quando os estudantes em maio exprimiam ruidosamente a sua alegria pelo termo do ano lectivo. Desde os anos 50 passaram a ser realizadas no início do ano lectivo, para festejar a chegada dos "caloiros" à universidade, sendo utilizadas também para alguma crítica social e académica.