Por Márcia Oliveira, in ionline
Crise atingiu em cheio os portugueses. Pedidos de ajuda multiplicam-se e instituições estão a ficar sem resposta
Os portugueses sempre foram conhecidos por serem muito solidários. Mas a verdade é que esses tempos já lá vão. Hoje em dia a história é outra. Desde 2008, ano em que a crise se instalou no nosso país, que os pedidos de ajuda vão aumentando e os donativos vão diminuindo. Que o diga a Ajuda de Mãe, que já está “no limite há vários anos”.
O principal objectivo da instituição é ajudar cada mãe e cada família para que o nascimento do bebé possa ser um factor de melhoria de vida. Mas a verdade é que os pedidos de ajuda têm vindo a aumentar, a associação já recebe cerca de 1300 mães/famílias por ano e a capacidade de resposta permanece no limite. “Estas mães têm alguns apoios sociais, como o subsídio de maternidade e o pré--natal, que, com a nossa ajuda em géneros, conseguem canalizar para outras necessidades mais imediatas. O problema surge quando estes subsídios acabam e não há saída profissional”, explica fonte da associação.
Também a Comunidade Vida e Paz está a passar por momentos difíceis. “Neste momento recebemos do Estado subsídios para uma comunidade de inserção social, dois apartamentos de inserção e a unidade de vida autónoma. Deixámos praticamente de receber os apoios do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) desde Setembro, apesar de termos os sem-abrigo em recuperação terapêutica. O IDT alega falta de verbas, mas essa falta de pagamento está a tornar insustentável a situação financeira de muitas comunidades terapêuticas”, lamenta fonte da instituição. E acrescenta: “As famílias carenciadas têm vindo ter connosco com mais frequência. A crise potencia sempre situações de carência, sobretudo dos mais débeis.”
Embora a associação sobreviva com a austeridade actual devido à “generosidade dos benfeitores”, a verdade é que o optimismo não prevalece. “Sem os subsídios do IDT para a recuperação terapêutica dos sem-abrigo dificilmente poderemos manter todas as valências necessárias à saída da rua”, sublinha a mesma fonte.
Em Coimbra, a Associação de Apoio à Vida (ADAV) também tem o trabalho dificultado pela crise. Ana Maria Ramalheira, presidente da associação, diz que existiu um “acentuado aumento de pedidos de apoio”. E os pedidos não são só de famílias com mulheres grávidas, bebés e crianças com dificuldades, aos quais a associação se dedica, mas também de outras instituições de solidariedade da região de Coimbra, uma vez que a resposta que a ADAV disponibiliza é única no distrito. A manifesta tendência para um substancial aumento de pedidos de apoio exige uma intensificação das diversas estratégias de angariação de bens. Para conseguir dar resposta a todos os pedidos, Ana Maria Ramalheira explica que é necessária “muita imaginação, muito engenho e muito trabalho para manter um stock mínimo de bens necessários” à maternidade e ao bebé, designadamente enxovais para os recém-nascidos.
Já a Cáritas admite que a sua resposta tem ficado, em muitas situações, aquém das necessidades apresentadas. “São cada vez mais as organizações e as empresas que se disponibilizam para levar a efeito iniciativas a favor da Cáritas. Mas, tendo em conta os resultados do último peditório público e a redução de donativos no Fundo Social Solidário, a partilha dos portugueses está a diminuir. O que se compreende, dadas as dificuldades por que muitos estão a passar. Estamos a aguardar o resultado da Operação 10 Milhões de Estrelas para verificar se esta redução se confirma”, afirma fonte da instituição.
Na Casa dos Rapazes a incerteza em relação ao futuro também é uma constante. A instituição dedica-se a acolher, educar e cuidar de rapazes em risco, delineando um projecto de vida para cada um com o objectivo de mais tarde se tornarem homens integrados na sociedade. “Tal como há alguns anos, sempre que um rapaz sai da nossa casa outro entra quase de imediato para preencher a vaga. O que temos sentido é que algumas famílias dos nossos rapazes precisam actualmente de uma ajuda extra para as necessidades básicas do dia-a- -dia”, explica fonte da associação. Mesmo assim, na instituição o optimismo é uma constante: “Sabemos que novos paradigmas exigem novas abordagens, e por isso queremos continuar a fazer diferente, mais e melhor.” Com Helena Nunes