Pedro Crisóstomo, in Público on-line
Há 15 anos, era 50% menos provável um jovem ser desempregado de longa duração. Um quarto dos trabalhadores entre os 35 e os 44 anos tem contratos a prazo.
A rotatividade associada aos contratos a prazo “tem implicações negativas” para o percurso do trabalhador, diz o BdP Bárbara Raquel Moreira
Há um número que sobressai a cada vez que se olha para a evolução recente do mercado de trabalho: um terço dos jovens entre os 15 e os 24 anos não encontra lugar no mercado de trabalho. Os últimos números trimestrais do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que a taxa de desemprego jovem está em 34,4%. O problema não é novo. Mas o que explica o “aumento desproporcional” do desemprego nesta faixa etária depois da eclosão da crise financeira internacional? O Banco de Portugal (BdP) lança a questão no último Boletim Económico, publicado nesta quarta-feira, e procura algumas pistas de resposta analisando o comportamento do mercado de trabalho depois da recessão e as alterações na área laboral desde 2011.
Antes da resposta, alguns números e tendências. No início deste século, diz o banco central, “era 50% menos provável que um trabalhador jovem estivesse desempregado há mais de um ano relativamente à média, enquanto para trabalhadores mais velhos esta situação era 1,5 vezes mais provável”. Hoje, a probabilidade de se ficar no desemprego de longa duração (um ano ou mais tempo) está mais próxima entre os mais novos e os mais velhos. E é mais alta tanto num caso como noutro.
“É normal que os jovens tenham taxas de desemprego mais altas do que a média da população activa, uma vez que muitos deles estão à procura do primeiro emprego e têm por isso taxas de rotação mais altas enquanto procuram um emprego mais estável”, lê-se no boletim do BdP.
O banco central chama a atenção para o facto de “a maioria da parcela” dos jovens que não têm trabalho estarem estatisticamente classificados “como [população] inactiva e não como desempregada”. Mais um dado: “Por cada 100 jovens empregados no fim do século passado, actualmente há só 52 jovens na mesma situação. Dos restantes, três quartos estão inactivos e só um quarto está desempregado”. Segundo o BdP, a maioria destes fluxos tem a ver com o aumento da escolaridade obrigatória, do número de estudantes universitários e com programas de formação.
A leitura do banco central é mais abrangente. A instituição liderada por Carlos Costa lembra que os trabalhadores jovens são, desde logo, “mais sensíveis ao ciclo económico, dado que o seu custo de oportunidade de um emprego difere do dos trabalhadores mais experientes (podem voltar a estudar ou ter apoio familiar, por exemplo)”. Mas vinca que a resposta ao problema está “também intimamente ligada ao aumento da utilização de contratos a prazo e à sua incidência particularmente alta entre trabalhadores jovens”.
Para o Banco de Portugal, a possibilidade de um trabalhador jovem “experimentar diversos empregos na fase inicial de uma carreira traz benefícios tanto para os trabalhadores como para as empresas”. A introdução de contratos a prazo, considera, “deveria ter melhorado este mecanismo”, mas a rotatividade nos contratos “vai muito além da que seria de esperar deste processo”.
É que hoje constata-se que “os trabalhadores, em geral, demoram muitos anos para efectuar essa transição [para um emprego permanente] e nem sempre a conseguem fazer: a percentagem de trabalhadores entre 35 e 44 anos com contratos a prazo subiu de 15% em 1998 para 25% em 2014, excedendo o aumento desta faixa etária em termos de emprego total”. O banco central considera que o nível de rotatividade é “excessivo” e que “tem implicações negativas para o resto do percurso profissional do trabalhador”. Com a crise, “as empresas contraíram a contratação, e em particular sob a forma de contratos permanentes”.
Uma das leituras do Banco de Portugal é que o aumento do desemprego “não está a pôr pressão suficiente” nas vagas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) para que estas diminuam. A razão, diz o departamento de estudos do BdP, pode estar no facto de o processo que junta trabalhador e emprego “se tenha tornado menos eficiente”. Isto tanto porque as empresas podem não estar “a encontrar candidatos adequados entre os desempregados”(e aqui conta o próprio factor desemprego de longa duração, que implica “perdas de qualificações” e “erosão do capital humano”), como por causa daquilo a que o BdP chama de “mudanças institucionais no mercado de trabalho”.