Romana Borja-Santos, in Público on-line
Caso aconteceu na Figueira da Foz e autoridades já terão sido informadas. Vídeo foi gravado em 2014 mas só agora chegou às redes sociais.
Este é um "frame" do vídeo em que se vê o aluno a ser agredido DR
São 13 minutos de estaladas, murros e até alguns pontapés de um grupo de jovens a um rapaz aparentemente da mesma idade. A situação passa-se na Figueira da Foz e terá acontecido no Verão de 2014, mas a explosão de indignação só aconteceu agora, depois de um vídeo ter sido partilhado na terça-feira à noite no Facebook. O caso foi confirmado ao PÚBLICO pelo director da Escola Dr. Joaquim de Carvalho, onde o agredido é aluno, mas o vídeo foi filmado fora do recinto escolar.
No vídeo aparecem duas adolescentes a agredir um rapaz e dura 13 minutos. Há várias pausas, nomeadamente quando se ouvem carros a passar ou quando os próprios jovens alertam que alguém se aproxima. As agressões são levadas a cabo maioritariamente pelas duas jovens, mas no vídeo aparecem ainda pelo menos mais duas raparigas e dois rapazes. Durante todo o tempo, o rapaz que é agredido permanece praticamente quieto e não tenta fugir ou responder às agressões, estando grande parte do vídeo com as mãos atrás das costas.
As imagens não têm muitos diálogos, ouvindo-se apenas frases soltas como uma das agressoras a dizer ao jovem “isto é força, isto é força. Queres ver com mais força?” e uma outra a sugerir “dá-lhe mais” enquanto a primeira adianta que vai mudar de lado “porque já está a doer a mão”. Depois chama uma colega para trocar de lugar e contam as estaladas, mas a contagem é quase sempre “um, um” e só quando há mais força se passa a “dois” ou “um, dois, três”. Só mais à frente é apontada uma possível razão para a agressão. “É que a mim não me apetece andar à chapada. Apetece-me andar à porrada, sabes porquê? Porque tu meteste-me nojo”, diz uma das agressoras. Neste momento, o jovem diz que não fez nada e ouve-se a voz de outro rapaz a dizer “metes-te com ela, metes-te comigo, basicamente”.
A partilha do vídeo gerou, até à manhã desta quarta-feira, mais de 37 mil partilhas na rede social Facebook, 6000 'gostos' e quase 800 comentários. Na maior parte dos casos, os comentários são de indignação com a situação, condenação da violência e apoio ao jovem agredido, com pedidos para intervenção das autoridades. Algumas das pessoas dizem que terão dado conhecimento da situação à PSP da Figueira da Foz e à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) da Figueira da Foz. Outras identificam tanto o agredido como alguns dos agressores e indicam que terão entre 15 e 17 anos, mas a maior parte dos envolvidos já apagou o perfil na rede social.
O PÚBLICO contactou a PSP que remeteu quaisquer comentários para o Comando Distrital de Coimbra, que ainda não respondeu às questões. Já a CPCJ da Figueira da Foz, contactada pelo PÚBLICO para perceber se estava a par do caso, disse que não prestava declarações. No entanto, a presidente desta estrutura, Sandra Lopes, à Lusa, confirmou que vai averiguar os acontecimentos divulgados no vídeo. “A CPCJ não tinha conhecimento desta situação e só a conheceu depois de divulgado o vídeo. Vamos averiguar o que aconteceu. Recebemos depois da divulgação do vídeo várias participações, mas faríamos uma averiguação mesmo que isso não tivesse acontecido”, acrescentou.
Apesar de a agressão ter ocorrido fora dos estabelecimentos escolares da cidade, o director da Escola Dr. Joaquim de Carvalho confirmou ao PÚBLICO que o jovem agredido é aluno naquela instituição, mas assegurou que os restantes não estudam no mesmo estabelecimento. Carlos Santos diz-se “chocado” com o que viu, mas também com os comentários que leu.
“A situação, ao que já averiguei, ocorreu no Verão de 2014. A situação não ocorreu na nossa escola e, pressupostamente, em nenhuma escola da Figueira, mas sim na zona do picadeiro. Sendo o aluno agredido da nossa escola, já comuniquei à encarregada de educação toda a nossa disponibilidade para todo o apoio que o mesmo venha a necessitar e estiver ao nosso alcance”, disse o professor, acrescentando que “a ocorrência já foi denunciada e está a ser tratada pelas entidades competentes”.
Carlos Santos adiantou que desde o Verão que o comportamento e rendimento escolar do aluno têm sido normais, pelo que ficou “surpreendido” com esta situação e “preocupado com os efeitos ainda mais nocivos que esta exposição pode trazer”. O director garantiu também que “sempre foi e continuará a ser política da escola desenvolver programas de prevenção deste tipo de situações, nomeadamente na disciplina de Educação para a Cidadania”.