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Quase 40% dos alunos que entram no ensino superior universitário com média de 10 valores abandonam os estudos passado um ano. Uma percentagem que desce para 6% entre os que que têm 15 valores como nota de ingresso.
São dados divulgados nesta quinta-feira de manhã por um dos responsáveis da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), João Baptista, num seminário sobre sucesso académico que decorrerá durante todo o dia.
Dez é a média mínima de ingresso no superior. “Não estava à espera desta dimensão”, admitiu João Baptista, que não hesita em descrever o impacto das notas de ingresso na probabilidade de abandono do ensino superior como um “efeito brutal”. Esta informação diz respeito aos alunos que entraram no ensino superior universitário pelo concurso nacional de acesso no ano lectivo de 2011/2012, o primeiro em que passou a existir informação sobre o percurso individual de cada estudante.
A variação faz-se logo sentir quando a média de ingresso passa de 10 para 11 valores, com uma redução da taxa de abandono passado um ano de 39% para 23,6%. “Se os números por vezes falam, estes aqui gritam”, comentou João Baptista, que desafiou as instituições do ensino superior a elaborar novas estratégias de acolhimento dos novos alunos com base no que os novos dados sobre abandono revelam.
No ensino superior politécnico, o “fenómeno é semelhante, embora com uma dimensão menor”, frisou o subdirector-geral da DGEEC, referindo que 18% dos que entraram com média de 10 valores neste subsistema de ensino já não estavam a estudar um ano depois de terem ingressado, descendo esta percentagem para 14% quando a média de entrada é de 11 valores.
Com base na informação sobre o percurso individual dos estudantes, a DGECC conseguiu calcular a taxa de abandono do ensino superior de uma forma “mais exacta” do que aquela utilizada até então e que resultava da proporção entre os que saíam do sistema de ensino e os que tinham entrado três anos antes. Para o fazer, foi tentar saber qual a situação em 2012/2013 dos alunos que se tinham inscrito no 1.º ano do superior, pela primeira vez, em 2011/2012. Resultado: 12% tinham abandonado os estudos, uma taxa que é três vezes inferior à registada quando o universo se restringe aos que entraram com uma média de 10.
A taxa geral de abandono passado um ano é idêntica no superior universitário e no politécnico públicos, mas sobe para 17% no privado.
Os números gerais relativos ao abandono foram utilizados no portal Infoescolas, lançado no ano passado pelo Ministério da Educação e Ciência, onde é possível saber quais as estatística nacionais e o que acontece curso a curso tanto no que respeita ao abandono como à empregabilidade.
Agora a DGEEC foi apurar também quais são os impactos das dificuldades económicas sentidas pelos estudantes na taxa de abandono e concluiu que é muito menor do que o revelado pelas dificuldades escolares, traduzidas nas médias de ingresso.
A taxa de abandono um ano depois do ingresso é menor (4%) no grupo de alunos que se candidataram a bolsas de estudo devido a carências do seu agregado familiar e que viram as suas candidaturas aprovadas. Esta percentagem passa para 9% entre os alunos que não se candidataram a bolsas, um resultado que se mantém quase inalterável quando os alvos de análise são os estudantes que viram recusada a bolsa e os que primeiro tiveram uma recusa, mas cuja situação foi depois reavaliada, levando à concessão deste apoio.
“Há muito poucos alunos nesta última situação, mas este é um indicador de que os alunos decidem abandonar logo no primeiro semestre”, frisou João Baptista. Em 2013/2014 foram apresentados 85.546 pedidos de bolsa de estudo. Destes, 62.125 foram aprovados.
Mais bolsas
Segundo o presidente do Conselho Coordenados dos Institutos Superiores Politécnicos (CSISP), Joaquim Mourato, a correlação positiva detectada pela DGEEC entre o universo de bolseiros e o aumento do sucesso académico é mais “um bom argumento que o Governo deve ter em conta” quando apreciar as alterações ao regulamento das bolsas, apresentadas na semana passada por um grupo de trabalho que integra o Conselho de Reitores, o CSISP e as associações académicas do ensino superior.
O grupo de trabalho propôs o aumento do limiar de elegibilidade para a concessão de bolsas em cerca de 840 euros anuais, o que permitirá chegar a mais cinco mil estudantes.
Mourato defendeu ainda que, na sequência do seminário desta quinta-feira, devem ser fixados objectivos e metas concretas para promover o sucesso académico e reduzir o abandono escolar. “Nesta reunião fez-se a primeira troca de experiências e abriu-se caminho para intervenções práticas”, resumiu o secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes.
Falando no final do seminário, o ministro da Educação, Nuno Crato, considerou que a melhoria do sucesso educativo no superior é “uma tarefa nacional”. Para Crato, os dados apresentados hoje, nomeadamente os que dão conta da influência da média de ingresso na percentagem de abandono logo após o primeiro ano, “são muito significativos em termos educativos” e reforçam a necessidade de uma intervenção mais precoce para “apoiar os alunos que começam a ter dificuldades no 1.º ano do ensino superior”.
Daniel Freitas, presidente da Federação Académica do Porto, lembrou que a maioria das boas práticas para redução do abandono “não apresentam custos extraordinários excessivos”, tendo apresentado exemplos do que poderá ser feito nas instituições nesse sentido, como a criação de gabinetes de apoio psicológico e acompanhamento do processo formativo, serviços de tutoria entre pares (no caso de estudante para estudante) ou apoios especiais nas unidades curriculares com maiores taxas de insucesso.
O seminário sobre sucesso académico resulta de uma iniciativa conjunta do secretário de Estado do Ensino Superior e de oito instituições universitárias e politécnicas.