24.5.15

Portugal é dos países mais pobres e desiguais da OCDE

Cristina Sambado, RTP

Portugal, onde o fosso entre ricos e pobres diminuiu, continua entre os países mais desiguais e com maiores níveis de pobreza consolidada da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, segundo um relatório apresentado esta quinta-feira em Paris que analisa a desigualdade de rendimentos nos últimos anos.
“Nos primeiros anos da crise, a desigualdade de rendimentos antes dos impostos e benefícios aumentou fortemente, mas os impostos e benefícios amorteceram a subida. Nos anos mais recentes, enquanto a desigualdade de rendimentos antes dos impostos e benefícios continua a subir, o efeito de amortecimento abrandou, acelerando a tendência geral de aumento de desigualdade do rendimento disponível”, refere o relatório da OCDE.

O relatório, que analisa a totalidade dos países da OCDE e também economias emergentes como a China e a Rússia, conclui que a desigualdade de rendimentos e a pobreza aumentaram durante a crise. Entre 2011 e 2012, Portugal registou uma redução de 0,343 para 0,388 no coeficiente Gini, que mede as desigualdades de rendimento (0 para países com igualdade de rendimentos e 1 para países com maior desigualdade de rendimentos).

Segundo o estudo, “em Portugal, apesar do aumento da desigualdade registada no rendimento de mercado (inclui rendimentos do trabalho, capital e propriedades), a aplicação de benefícios fiscais e sociais resultou numa redução da desigualdade dos rendimentos disponíveis”.

Portugal surge, assim, no relatório como o nono país mais desigual entre os 34 da OCDE, acima do índice médio destes países, que é de 0,315.
Crianças e jovens entre os mais afetados

“Os dez por cento da população mais rica concentravam 25,9 por cento da riqueza, enquanto os dez por cento da população mais pobre tinham 2,6 por cento. O grosso da riqueza (63 por cento) concentrava-se em 40 por cento da população”, acrescenta o documento.

A taxa de pobreza dos agregados portugueses, entre 2011 e 2012, passou de 12,0 para 12,9 e os níveis de pobreza consolidada subiram dos 12,4 para os 13,6 por cento, o sexto valor mais elevado entre os 34 países da OCDE e acima do nível médio de pobreza consolidada deste bloco de países, situada nos 9,9. Segundo o relatório, a pobreza afetava sobretudo as crianças e jovens, com taxas de 17,8 e 15,8 respetivamente. Já os adultos, entre os 26 e os 65 anos, e os trabalhadores pobres apresentam taxas de 12,5 e 12,2.

Em 2011, pela primeira vez, a taxa de pobreza das pessoas com idades entre os 66 e os 75 anos ficou abaixo da média da população, uma redução que é classificada como “considerável” em Portugal e em países como a Grécia, a Irlanda ou a Espanha.

Enquanto em 2007 os idosos eram o grupo etário com maior incidência de pobreza, em 2011 os jovens e as crianças tomaram o seu lugar. A OCDE tinha identificado a pobreza entre os jovens como uma tendência a longo prazo, no entanto a crise acelerou.
Desigualdades aumentaram com a crise

O relatório conclui ainda que, entre 2007 e 2011, a maioria dos países da OCDE registou um aumento na desigualdade do rendimento disponível, tendo 15 países ficado mais desiguais e nove mais iguais.

Na Grécia, Irlanda e Portugal, o aumento da desigualdade nos rendimentos de trabalho foi fortemente influenciada pelos efeitos do desemprego, no entanto, as diferenças salariais reduziram-se por causa dos cortes nos salários do sector público.
Na maioria dos 34 países, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres está ao nível mais alto dos últimos 30 anos, com dez por cento dos mais ricos a registarem em média 9,6 vezes o rendimento dos dez por cento mais pobres.

Segundo o relatório, as desigualdades continuaram a aumentar durante a crise, sobretudo devido ao crescimento do desemprego, mas também depois da crise.