FERNANDO CALADO RODRIGUES, in "Correio da Manhã"
Aos mais ricos e poderosos do mundo, o Papa denunciou a indiferença perante a exclusão.
Os mais destacados líderes políticos e empresários do mundo refletem sobre a "quarta revolução industrial". Em Davos, uma pequena localidade dos Alpes suíços, decorre desde quarta-feira o 46º Fórum Económico Mundial. A primeira revolução industrial foi provocada pela máquina a vapor, a segunda pela eletricidade e a terceira pela eletrónica e robótica. A quarta desenvolve-se devido à combinação de diversos fatores e das tecnologias digitais. Numa mensagem dirigida ao Fórum, o Papa Francisco defende "a necessidade de criar novos modelos empresariais que, enquanto promovem o desenvolvimento de tecnologias avançadas, sejam capazes também de utilizá-las para criar trabalho digno para todos, manter e consolidar os direitos sociais e proteger o meio ambiente". O Papa aproveitou ainda para apelar aos mais ricos e poderosos do mundo que não esqueçam os mais pobres.
E, mais uma vez, ergueu a sua voz para denunciar a "cultura do descarte" e da indiferença perante a exclusão e o sofrimento de tantas pessoas em todo o mundo. "Não devemos permitir jamais que a cultura do bem-estar nos anestesie", disse. Desafiou também os que têm nas mãos os destinos do mundo "a garantir que a vinda da ‘quarta revolução industrial’ e os efeitos da robótica e das inovações científicas e tecnológicas não levem à destruição da pessoa humana – ao ser substituída por uma máquina sem alma – nem à transformação do nosso planeta num jardim vazio para deleite de poucos escolhidos". Na verdade, uma economia e uma tecnologia que não colocam a pessoa humana no centro das suas preocupações rapidamente resvalam para uma "economia que mata" e uma tecnologia que gera ainda mais exclusão social. O Papa deseja que o Fórum contribua para corrigir essa tendência e promova "a defesa e a salvaguarda da criação" e um "progresso que seja mais saudável, mais humano, mais social, mais integral".