Ana Cristina Pereira, in "Público"
São já dez mil os quilos doados por portugueses à Cruz Vermelha Pelo menos seis toneladas de bens recolhidos pelo movimento Não Te Refugies devem seguir hoje do Porto para Belgrado. Com esta segunda remessa, aquele movimento espontâneo eleva para dez mil o número de quilos doados por portugueses à Cruz Vermelha de Belgrado.
Tudo começou em Setembro de 2015 com José Jorge Sá e a companheira, Milica Bogdanov, a usarem as férias para fazer voluntariado na CZA, uma organização não governamental que está a apoiar os candidatos a asilo que passam por Belgrado. O Inverno estava prestes a chegar e os sérvios tinham muito pouco para doar.
Jorge, enfermeiro havia oito anos, ficou emocionado: “São pessoas iguais a mim, que tinham uma vida mais ou menos normal, um trabalho, uma casa, um cão, um gato, sei lá, e que, de um momento para outro, deixaram tudo para trás, fi zeram-se ao caminho, quase sem nada, a não ser aquela força uma força incrível.” “Falta tudo aqui”, notava. Temos de nos mexer. Parece que é uma coisa muito distante, que passa nas televisões, com pessoas estranhas, mas não é, são pessoas como nós, à entrada da União Europeia.” Para Portugal, Jorge trouxe muita vontade de recolher tendas, sacos-cama e roupas quentes e de as enviar para o lado de fora da fronteira da União Europeia. A ele e à assistente social com Portugal envia mais seis toneladas para Belgrado quem namora juntaram-se a designer Lígia Pinto e a médica Bárbara Seabra. Com o apoio de muitas pessoas e algumas organizações, recolheram 3,9 toneladas de bens, que fizeram chegar à Sérvia em Dezembro.
A balança que usam é de casa de banho, pelo que tudo terá de ser pesado novamente amanhã. Para já Jorge Sá fala em mais de seis toneladas: dez tendas grandes (40 metros quadrados), 52 tendas médias (para três a quatro pessoas), 64 sacos-cama adequados a baixa temperaturas, 136 cobertores, 1947 camisolas usadas, 750 camisolas novas, 1274 casacos, 177 casacos novos, 935 pares de calças, 230 casacos impermeáveis e outros bem, 274 pares de sapatos/ botas e outros bens. Grande parte da roupa nova fora doada aos Médicos do Mundo, organização nãogovernamental de ajuda humanitária e de cooperação para o desenvolvimento. As tendas e os sacos-cama é que foram comprados com dinheiro angariado através da campanha Tendas para Todos, que os voluntários alojaram na plataforma de financiamento colaborativo PPL Causas.
Hoje, a vida de Jorge Sá, Lígia Pinto e Bárbara Seabra retoma alguma normalidade. Milica é que ainda tem uns dias de trabalho pela frente, já que lhe cabe acompanhar a entrada das doações em Belgrado. “Voltaria a fazer tudo de novo, apesar do cansaço”, diz Jorge.
Cerca de uma tonelada e meia de bens ficou no território nacional.
Não preenchia os critérios. Estão a ser doadas à Cruz Vermelha Portuguesa, à associação Vida Norte, à comunidade de inserção Paulo Vallada, ao Lar Luísa Canavarro, ao projecto ChikiGentil-coração com pernas e à associação A Casa do Caminho.