19.1.16

FMI avisa que “crescimento global pode descarrilar”

Sérgio Aníbal, in Público on-line

Passados três meses desde as últimas previsões, FMI surge agora mais pessimista. Prevê uma retoma mais moderada da economia mundial e alerta para os riscos de uma crise nascida nos mercados emergentes.

Três meses após as suas últimas previsões, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou esta terça-feira que está agora mais pessimista, retirando 0,2 pontos percentuais à previsão de crescimento no Mundo este ano e avisando que se os diversos riscos existentes não forem bem geridos, a economia mundial “pode descarrilar”.

De acordo com as previsões intercalares apresentadas pelo FMI, a taxa de crescimento do PIB mundial irá situar-se em 3,4% em 2016 e 3,6% em 2017. Estes números significam que a retoma da economia mundial, depois dos 3,1% registados no ano passado, vai ser mais lenta do que aquilo que era previsto nas projecções do passado mês de Outubro.

Nessa altura, o Fundo apontava para um crescimento mundial de 3,6% em 2016 e de 3,8% em 2017.

A revisão em baixa deve-se, explica o relatório agora publicado, a três factores principais: a instabilidade que se vive em muitas economias emergentes, a descida pronunciada dos preços das matérias primas, incluindo o petróleo, e o efeito do início das taxas de juro nos Estados Unidos. “Estas revisões reflectem em larga medida, mas não exclusivamente, uma recuperação mais fraca do que o previsto em Outubro nas economias emergentes”, diz o FMI, explicando depois quais são as economias que mais sofrem.

Em primeiro lugar, o Brasil, “onde a recessão causada pela incerteza política gerada pela investigação na Petrobras está a mostrar ser mais profunda e prolongada do que era esperado”. Depois, o Médio Oriente, “onde as projecções são afectadas pelos preços de petróleo mais baixos”. E por fim, os EUA, “onde o ritmo de crescimento se espera agora estabilize em vez de ganhar mais velocidade”.

Olhando para os números, verifica-se que o FMI prevê agora que a economia norte-americana acelere ligeiramente este ano de uma taxa de crescimento de 2,5% em 2015 para 2,6%, valor que se repete em 2017. Em Outubro, estavam previstas taxas de crescimento de 2,8% nos dois anos.

Para os mercados emergentes, também há uma revisão em baixa de 0,2 pontos percentuais tanto em 2016 como em 2017. O Fundo prevê agora que estas economias cresçam 4,3% este ano e 4,7% no próximo, mais rápido do que os 4% de 2015.

No entanto, em alguns países, o pessimismo é agora muito maior e projectam-se mesmo anos de recessão profunda. Para o Brasil, o FMI está à espera de uma contracção de 3,5% este ano e de estagnação em 2017, resultados que são cerca de 2,5 pontos percentuais mais baixos do que era esperado há três meses.

Em relação à zona euro, as previsões do Fundo mantém-se praticamente inalteradas, com a economia a passar de um crescimento de 1,5% no ano passado para 1,7% neste ano e no próximo. O FMI apenas apresenta previsões para as quatro maiores economias da zona euro, deixando por isso Portugal sem qualquer actualização.

Os riscos
Se o cenário agora traçado é o de uma recuperação da economia mundial feita de forma ainda mais moderada, a verdade é que os responsáveis do Fundo fazem questão de deixar claro que as coisas podem acabar por ser ainda bem piores, principalmente pelo lado das economias emergentes.

São quatro os principais riscos identificados: a China não conseguir fazer a transição de um modelo económico para o outro e ver a sua economia travar bruscamente; a subida das taxas de juro nos EUA acentuar os problemas financeiras nas economias emergentes; os investidores dos mercados financeiros internacionais aumentarem a sua aversão ao risco; e registar-se uma escalada dos conflitos geopolíticos.

Se estes riscos se concretizarem, avisa o Fundo, “o crescimento global pode descarrilar”.

O que o FMI não muda, neste mais recente relatório, são as recomendações que faz aos governos e aos bancos centrais. Pede reformas estruturais que aumentem o potencial de crescimento económico a prazo, aconselha os países com espaço de manobra orçamental a investir mais em infraestruturas e pede aos bancos centrais da zona euro e do Japão para manterem uma política monetária expansionista, num cenário em que ainda há motivos para temer a deflação.