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No Instituto Justiça e Paz, em Coimbra, as explicações foram democratizadas com o projeto NEXT, em que estudantes, docentes e investigadores se inscrevem de forma voluntária para ajudar alunos do ensino superior com carências económicas.
Carolina Sanches, estudante de engenharia civil, precisava de 4,5 valores em seis para passar a Análise Matemática 3. A 13 de dezembro, um domingo, soube que teve 4,75 valores. "Já está arrumada", conta, sem esconder a felicidade que partilhou nesse mesmo dia com a sua explicadora, Sara Fonseca, três anos mais velha e do mesmo curso.
A estudante de 21 anos é uma das alunas apoiadas pelo Núcleo de Explicações Voluntárias (NEXT), que vai a caminho dos três anos de vida e que no primeiro semestre deste ano contou com 15 alunos apoiados.
O projeto surgiu depois da constatação, dentro do Fundo Solidário (apoio económico a estudantes do ensino superior) do Justiça e Paz, de que as questões económicas e académicas estão, por vezes, interligadas, conta à agência Lusa uma das coordenadoras do NEXT, Mariana Albuquerque.
Os estudantes, "tendo mais dificuldades económicas, não têm acesso a materiais básicos para ter bom sucesso escolar", aponta, explicando que o projeto apoia alunos com carências financeiras, com ou sem bolsa.
As áreas mais pedidas pelos explicandos são aquelas que "assustam mais: matemáticas, químicas ou físicas", contou.
Marcelo Ribeiro, de 24 anos, formou-se em bioquímica há cerca de seis meses e, para ocupar o seu tempo, optou por se inscrever no NEXT como explicador.
Ainda não sabe se as explicações deram frutos - está à espera dos resultados dos exames -, mas mostra-se expectante.
"Nós vivemos um pouco a luta das pessoas e sentimos quase como se fosse uma luta nossa. Acabamos por querer que as pessoas passem no exame, quase como as próprias pessoas que são examinadas", frisa.
Margarida Costa, 70 anos, quase 50 dos quais a lecionar Física na Universidade de Coimbra, juntou-se ao NEXT pela vontade de fazer voluntariado e pelo "gosto muito grande" em dar aulas.
"Está a ser muito gratificante" diz a ex-docente, que está na equipa de supervisão do projeto e a dar explicações a uma aluna.
Sara Fonseca, que ajudou Carolina na cadeira de Análise Matemática 3, desdobra-se em sorrisos para falar do "êxito" das explicações.
"Há esta ligação das glórias dos outros que passam um bocadinho para nós", conta a explicadora em regime de voluntariado que partilhou o nervosismo de Carolina, aquando da derradeira frequência.
A explicanda, natural de Castelo Branco, refere que chegou ao NEXT depois de ter recebido ajuda financeira do Justiça e Paz no seu segundo ano de curso.
"Já tinha perdido a bolsa no 1.º ano. No 2.º ano não tive [bolsa] por falta de uma cadeira e depois nunca mais consegui recuperar", sublinha, explanando que a situação financeira da família e a falta de bolsa mexeu com o aproveitamento escolar.
"Todos os problemas que tenho tido a nível económico, parecendo que não, mexem com o próprio estudante. É preciso um estudo continuado e não haver distrações. Às vezes, é complicado para pessoas que estão num momento de carência e com problemas a todos os níveis".
Para Carolina, as explicações "foram muito úteis", num momento decisivo, quer para passar à cadeira - "passava ou chumbava" -, quer para alimentar as esperanças de conseguir aproveitamento escolar para voltar a ter bolsa.
Agora, pretende voltar a inscrever-se no projeto no 2.º semestre e, "quiçá, ser explicadora noutras cadeiras".
No 2.º semestre, as inscrições para o NEXT abrem no início de fevereiro.