13.2.17

Pobreza e desigualdade em subida

Texto Eduardo Santos, in Fátima Missionaria

Um relatório da OCDE, divulgado a semana passada, refere que que "tanto a desigualdade como a pobreza têm estado a aumentar desde a crise", sendo as crianças e os jovens os grupos mais afectados

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentou a semana passada um relatório sobre a economia portuguesa. O documento refere que as pensões em Portugal foram feitas à custa dos jovens e dos futuros reformados e que os pensionistas actuais, em particular no sector público, têm benefícios «significativamente mais generosos» em detrimento dos «futuros pensionistas». A organização acentua que «tanto a desigualdade como a pobreza têm estado a aumentar desde a crise», sendo as crianças e os jovens os mais afectados, com um aumento de três pontos percentuais, ao passo que a pobreza entre os pensionistas caiu quase seis pontos percentuais desde 2009.

Para combater as desigualdades de oportunidades, Portugal terá de «repensar alguns dos mecanismos de governança actuais que atribuem vantagens e rendas a grupos específicos». A OCDE dá o exemplo do mercado de trabalho, no qual «os que têm direitos adquiridos e contratos permanentes mantêm vantagens significativas, apesar de um mercado de trabalho menos rígido melhorar as oportunidades de emprego para os jovens e para os desempregados».

É referido ainda que há outro problema a corrigir: «As negociações entre os trabalhadores e as empresas muitas vezes representam apenas pequenas franjas de trabalhadores e as empresas incumbentes», ficando sem «grande voz» os que se iniciam no mercado ou os desempregados.

A instituição alerta para os «baixos níveis de competitividade em muitos sectores», que beneficiam pequenos grupos de interesses, mas que «prejudicam os que usam esses serviços», instando a «avançar para uma economia mais inclusiva. Para atingir esse fim vai ser necessário «uma discussão sobre como remover os privilégios e as rendas e dar mais oportunidades iguais para todos».

A receita está feita à medida, mas para isso vai ser preciso ter em conta outra vertente muito importante: a criação célere da riqueza que serve de suporte a uma economia mais sã. E, para isso, o caminho que se vislumbra não é risonho, dado que quase tudo aponta noutro sentido com maior interesse para os partidos políticos e que se resume em medidas avulsas que permitem a caça aos votos.

Enquanto o executivo não avançar para uma economia planificada de médio prazo - o ideal seria de longo prazo - as nossas esperanças de um sistema mais justo e com uma distribuição de riqueza equitativa ficam à espera de melhores dias.