Rosa Ruela, in Visão
Leia este artigo a ouvir em repeat a canção Eu Sei Que Vou Te Amar, de Tom Jobim. Também pode ser nas versões de Caetano Veloso ou de Creuza com Vinicius de Morais. Importante é confirmar que a atividade sexual é possível até com 80 ou mais anos. E tem impacto na qualidade de vida, na saúde física e no bem-estar subjetivo
Não fomos nós que inventámos. O que vai ler parte de uma análise que um psicólogo social e uma enfermeira fizeram dos resultados de um inquérito sobre relações sexuais, incluído no English Longitudinal Study of Ageing (ELSA, dados recolhidos junto de uma amostra representativa da população do Reino Unido com 50 anos até mais de 90).
O principal objetivo de David Lee, investigador na Universidade de Manchester, e Josie Tetley, também professora universitária, era o de perceber se o sexo é importante para a saúde e o bem-estar geral dos mais velhos. Para isso tinham de varrer desde logo um estereótipo – o de que nem elas nem eles querem saber dos prazeres de cama, um trabalho facilitado pelo Inquérito sobre Relações Sexuais, realizado pelo ELSA a mais de 7 mil pessoas, entre 2012 e 2013.
Já se esperava que as mulheres se queixassem de falta de líbido e da secura vaginal, e que os homens estivessem sobretudo preocupados com as dificuldades de ereção. Mas, além de responderem com cruzinhas a uma série de perguntas, os participantes tinham espaço livre para comentários finais. E foi aí que surgiram as informações mais surpreendentes.
Para começar, os investigadores constataram que, apesar de a atividade sexual ir se alterar com o avançar dos anos, a relação amorosa pode continuar satisfatória e recompensadora. Escreveu uma mulher de 60-69 anos: “Para mim e o meu parceiro, a motivação para embarcarmos numa atividade sexual juntos (além dos beijos e das carícias) diminuiu bastante depois da menopausa, mas isso não nos preocupa!” E um homem, com mais de 80 anos, contou: “Eu e a minha mulher dormimos na mesma cama, beijamo-nos e abraçamo-nos antes de adormecer. Gostamos muito da companhia um do outro.”
Quanto ao equilíbrio nas relações sexuais, as diferenças entre os sexos são notórias, independentemente da idade. Elas referem mais vezes sentirem-se “obrigadas”, e eles reportam com maior frequência que não têm os mesmos gostos e aversões das suas parceiras. Mas, seja com mais ou menos vontade, o sexo continua a acontecer, lê-se.
“Penso que o sexo é muito importante para ter uma vida feliz, independentemente da idade. Na verdade, quando estamos a fazer amor podemos ter a idade que queremos, não nos sentimos velhos.” (Mulher, 70-79 anos)
“Estou extremamente contente com a relação sexual que tenho com a minha mulher, e muito satisfeito por, apesar da idade, o sexo para ambos continuar a ser tão bom como sempre foi.” (Homem, 70-79 anos)
Com a idade, o sexo não tem de ser obrigatoriamente sinónimo de penetração. Mas se estão ambos interessados em manter a qualidade da relação amorosa, tudo corre bem até na cama, concluiu-se ao ler o que escreveu, separadamente, um casal:
“Sempre tive uma relação sexual satisfatória com o meu maravilhoso e querido marido, mas com a idade, e em parte por causa dos medicamentos, a nossa atividade sexual foi-se esvanecendo aos poucos. Mas ainda mostramos afeto com frequência – ou seja, todos os dias, a toda a hora.” (Mulher, 70-79 anos)
“Se estamos mesmo apaixonados pela nossa parceira, não temos vontade ou sequer pomos a hipótese de ter relações sexuais com outra pessoa. E eu e a minha mulher estamos ainda tão apaixonados como estávamos quando casámos.” (Homem, 80+ anos)
A grande novidade, notam os investigadores, é que ter a perceção de que a vida sexual é boa leva a uma sensação de bem-estar e que esse bem-estar subjetivo tem, por sua vez, implicações diretas na saúde física. Há lá desculpa melhor?