25.1.23

Uniões de facto aumentaram 38,2% e divorciados já são mais que os viúvos

Natália Faria, in Público online

As famílias desmultiplicam-se em diferentes formas de viver a conjugalidade: os casamentos recuam (os segundos nem tanto), vive-se em união de facto, as famílias recompostas e monoparentais aumentam.

Em termos de conjugalidade o país deixou há muito de ser monocórdico e as famílias desfazem-se e recompõem-se a ritmos muito pouco lineares. Desde logo, os divorciados correspondem já a 8% da população. São mais 2,4 pontos percentuais que em 2011 e isso bastou para que tenham ultrapassado a população com estado civil viúvo (7,5%). Os casados também perderam terreno, representando agora 41% da população (menos 5,6 pontos percentuais), ao mesmo tempo que as pessoas que optam por viver em união de facto cresceram 38,2% na última década. São agora mais de um milhão. Em 2021, a percentagem da população em união de facto era de 11,2%, valor que em 2011 se situava nos 8,1%.

A tendência é transversal e não surpreende quem, como a demógrafa Maria João Valente Rosa, vinha notando o aumento exponencial das crianças nascidas fora do casamento: 60% das crianças nascidas em 2021. “Em 2015, este valor já tinha ultrapassado os 50% e o que isto nos mostra é que o casamento já não é pré-condição para se pensar na parentalidade”, interpreta a investigadora.

Refira-se que, também aqui, o país se mostra desigual. O Algarve aparece como a região com a maior proporção de uniões de facto (15,5%) e a região Norte, tradicionalmente mais conservadora e mais marcada pela presença da Igreja Católica, com a menor (8,8%). “É no grupo etário dos 30 aos 39 anos que se regista a proporção mais elevada de população residente em Portugal a viver em união de facto: 27,3%”, refere o INE.

“A conjugalidade não está em crise, a forma de a viver é que se tornou muito menos linear do que no passado. Se antes conseguíamos contar a história das pessoas de forma simples, elas casavam e tinham filhos, hoje combinam-se múltiplas trajectórias e múltiplas formas de viver com o outro e que muitas vezes não passam sequer por partilhar casa”, descreve Maria João.

Os números mostram que os agregados domésticos constituídos por apenas uma pessoa reforçaram o seu peso: representam 24,8% das famílias, num valor que aumentou 18,6% face a 2011. “É o envelhecimento, mas não é só, porque muitas vezes entra-se na vida adulta sem se iniciar a conjugalidade”, sublinha ainda Valente Rosa.

A socióloga Anália Torres aponta, por seu turno, outro dado que reforça esta mutabilidade das famílias: “Os casamentos estão a diminuir, mas os segundos casamentos têm vindo a aumentar.”

Com ou sem casamento e com ou sem divórcio, as famílias reconstituídas (em que existe pelo menos um filho não comum ao casal) são quase 125 mil, mais 2,3 pontos percentuais do que em 2011, “representando 8,8% dos núcleos familiares de casais com filhos”. Outra constante é o crescimento das famílias monoparentais: são agora 18,55 do total nacional de famílias, mais 3,6 pontos percentuais. As famílias compostas por mãe com filhos predominam (85,6% do total de núcleos familiares monoparentais) e são agora quase 500 mil, face às 84 mil famílias compostas por pais com filhos.
Taxa de analfabetismo recuou para 3,1%

Estas mudanças operam-se ao mesmo ritmo a que tem aumentado o nível de escolarização da população. O olhar retrospectivo da década apresenta-nos uma população em que 1,8 milhões de pessoas (21,2% da população com 21 ou mais anos de idade) frequentaram o Ensino Superior.

Apesar do caminho já percorrido, apenas 3% da população com diploma universitário obtém o doutoramento. E, apesar de as mulheres estarem mais representadas nas licenciaturas, os mestrados e doutoramentos continuam a ser mais frequentados pelos homens.

A população com o ensino secundário e pós-secundário, por seu turno, aumentou de 16,75 para 24,7%.

“São dados interessantíssimos”, na óptica de Maria João Valente Rosa, mas ainda insuficientes. “A maioria da população adulta, com 18 ou mais anos de idade, ainda não tem o secundário completo”, sublinha a investigadora, para concluir que, nas sociedades de informação em que vivemos, “ainda há muito investimento a ser feito no reforço de competências e das qualificações”.

Na última década, refira-se, a taxa de analfabetismo recuou 2,1 pontos percentuais. Era de 5,2% em 2011 e baixou para os actuais 3,1%. Por detrás desta percentagem, contam-se 292.809 pessoas que continuam sem saber ler nem escrever, sendo que o Alentejo surge como a região com a maior taxa de analfabetismo (5,4%), e, sem surpresas, a taxa de analfabetismo nas mulheres (3,1%) é superior em um ponto percentual à dos homens (2%).