11.1.23

2,3 milhões de pobres: Portugal foi o país da UE que mais subiu nos índices de pobreza e a carência atingiu jovens e idosos de forma igual

Raquel Moleiro, in Expresso

Os últimos dados do Eurostat revelam que o risco de pobreza e exclusão social está a aumentar e atinge um em cada cinco habitantes dos estados-membros da União Europeia. Mas não afeta todos por igual. É distinto por país, género, idade e composição familiar. Portugal está abaixo da média europeia, em oitavo entre os piores, e foi o que mais se afundou nas condições de vida, fruto da pandemia. Temos, agora, 2,3 milhões de pobresA União Europeia está a conseguir combater o risco de pobreza e exclusão?

De acordo com os últimos dados do Eurostat, relativos a 2021, a UE tem 95,4 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, o que representa 21,7% da população, um em cada cinco residentes nos estados-membros. Em relação ao ano anterior o aumento não foi significativo (cerca de 1%), mas ainda assim mais pessoas passaram a viver com um rendimento abaixo do limiar da pobreza ou sofrem uma privação material e social severa – não têm capacidade para ter pelo menos 7 de 13 item desejáveis ou necessários para uma qualidade de vida adequada – ou integram um agregado familiar com uma atividade laboral muito baixa, em que os adultos trabalham menos de 20% do tempo em que, potencialmente, o poderiam fazer. Basta um destes três critérios para entrar na estatística da pobreza. Mas há 5,9 milhões de europeus a acumular os três.

Quem corre maior risco?

O risco de pobreza ou exclusão social é maior nas mulheres (22,7%) do que nos homens (20,7%) e agrava-se em agregados familiares com crianças, sendo notório em mais de um quinto da população da UE que tem menores dependentes a cargo. No que diz respeito à idade são os jovens, entre os 18 e os 24 anos (27,3%) os mais atingidos. Os idosos com 65 anos ou mais inspiram menos preocupação. A análise etária dos dados torna a realidade ainda mais negra ao revelar que 24,4% das crianças (com menos de 18 anos) se encontram em risco elevado. A precariedade é igualmente agravada em europeus com um baixo nível educacional – a licenciatura diminui o risco em 25% - e em situação de desemprego. Dois terços dos cidadãos em idade ativa que não têm trabalho vivem em exclusão social.

Que países apresentam condições de vida mais desfavoráveis?

A Roménia (34,4%), a Bulgária (31,7%), a Grécia (28,3%), a Espanha (27,8%) e a Letónia (26,1%) apresentam o maior risco pobreza e de exclusão social entre os estados membros. As condições de vida mais favoráveis foram registadas na República Checa (11%), Eslovénia (13%), Finlândia (14%), Eslováquia (15,6%) e Países Baixos (16,6%). Em termos de evolução, doze países (Bélgica, Bulgária, República Checa, Estónia, Irlanda, Chipre, Lituânia, Polónia, Roménia, Eslovénia, Finlândia e Suécia) conseguiram diminuir os valores da pobreza.

Qual é a situação de Portugal?

Portugal está em oitavo lugar entre os países que registam maior risco de pobreza e de exclusão social, com 22,4% da população afetada. São 2,3 milhões de pessoas. Entre 2020 e 2021 o saldo agravou-se em 2,4%, distanciando-se da média europeia que se fica pelos 21,7%. Foi o estado-membro que mais viu a situação de pobreza agravar-se, o que levou a uma queda de cinco lugares na escala das condições de vida, interrompendo a tendência de decréscimo da precariedade dos últimos anos. É preciso recuar a 2017 para encontrar valores superiores.

Uma análise mais detalhada aos dados nacionais, revela que, tal como na generalidade da UE, a pobreza atinge mais as famílias portuguesas com crianças, a população menos instruída (30,4% têm ensino primário e básico, por oposição a 8,7% de licenciados) e as mulheres. Entre os carenciados, 22,9% são crianças e 24,2% têm entre 18 e 24 anos. Aqui, ao contrário da média da UE, os mais idosos não são os que registam melhores condições de vida: são tão sacrificados quanto os jovens.