Henrique Raposo, opinião, in Expresso
Costumo dizer isto aos meus amigos de origem privilegiada, eles sabem que é a k7 do Raposo: "a pobreza tem de ser vivida para ser compreendida por completo. Podes ler cem livros sobre a pobreza, mas se não sentes os fedores da miséria, se não ouves o ruído infernal de um bairro pobre onde não existe silêncio e privacidade, se não passas fome ou se passas a vida a comer mal, se não trabalhas num local onde te cansas como um escravo ou animal, se não sabes o que é viver sempre com medo de alguma coisa, então nunca vais perceber a pobreza, nunca. É por isso que na tua empresa ou na tua faculdade devias descer à terra e passar um mês nos trabalhos mais humildes, e devias forçar todos os teus colegas do topo a passar por esse estágio de humildade. Garanto-te que a sociedade ficaria mais justa".
Durante uma bela conversa para um novo podcast que vai sair em breve, "Geração 70", Bernardo Ferrão colocou-me a seguinte pergunta: aos 44 anos de idade e depois de 15 anos de Expresso, porque é que a pobreza ainda é tão importante para mim? Porque é que a minha origem pobre e clandestina é ainda importante? Já não me lembro das respostas que fui dando na conversa, mas tenho pensado muito nisso e a lista de razões não tem fim, mas, entre outras coisas, explicam porque é que mantenho uma conversa com os leitores há 15 anos.
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