15.7.10

Eliminar a pobreza através do conhecimento

José Carlos Patrício, in Agência Ecclesia

O Grupo Missão Mundo (GMM) está a desenvolver, em Moçambique, uma campanha a favor de uma maior qualidade na educação para crianças e jovens.

Este grupo de leigos missionários está integrado na Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres (CICSP), que tem como principal objectivo, na sua missão em África, desenvolver as comunidades locais no acesso a direitos tão essenciais como e educação e a saúde.

A ECCLESIA falou com Eduardo Marques, da GMM, que está a participar na elaboração desta campanha, integrada num grande projecto educativo, a desenvolver em alguns locais de Moçambique.

“Estamos a elaborar um projecto de construção de bibliotecas em Manjacaze e em Nacuxa, onde a CICSP tem uma missão, e estamos a pedir contributos às editoras, escolas, à sociedade portuguesa em geral, estamos a recolher livros para enviarmos para lá”, revela o missionário.

Para além de livros, o GMM espera enviar para lá, até ao final do ano, alguns computadores, mediante os apoios que se consigam reunir junto de alguns benfeitores.

Este é um projecto que diz muito a Eduardo Marques, não apenas enquanto leigo missionário mas também enquanto professor, e pretende “ajudar as pessoas a crescer no conhecimento, pois é através dele que podemos eliminar a pobreza”, refere.

O primeiro contacto com a realidade africana surgiu no ano passado, quando através da Comunidade Vida e Paz (CVP), dentro da equipa de espiritualidade e formação, teve conhecimento dos projectos que a CICSP estava a levar a cabo.

“Fui falando com a Irmã Cristina, que coordena esta equipa, acerca do trabalho que está a ser feito em África” adianta Eduardo Marques.

A vontade de experimentar o voluntariado missionário no exterior foi surgindo naturalmente. O trabalho voluntário que já ia fazendo, com a CVP, e a sua formação pedagógica foram ferramentas muito úteis, ao longo da sua preparação para a viagem.

“A atitude que eu levo para estes projectos é sempre de disponibilidade, não crio grandes expectativas, mas a sensação é sempre intensa, por aquilo que queremos fazer”, conta o docente, ao recordar o que sentiu quando chegou a Moçambique.

Foi em Manjacaze, na província de Gaza, e em Maxixe, província de Inhambane, que o professor concentrou a sua acção, desenvolvendo encontros com monitores, nos jardins-de-infância, trabalhando competências, planificando projectos e objectivos.

Colaborava com os jovens universitários da Universidade Pedagógica de Maxixe, pólo especial pertencente à Universidade de Moçambique e que estava sob a alçada da Congregação da Sagrada Famíla.

Eduardo Marques realça o trabalho realizado na formação de novos professores, muito interessante do ponto de vista da reflexão, da troca de experiências e de um olhar renovado. “Tive ali sinais de esperança, da parte dos jovens, que querem mudar a sociedade, que vão transmitir aos seus alunos que o mundo pode ser diferente”, explica.

Tal como muitos dos voluntários, ajudava no acompanhamento pedagógico das crianças e num serviço de refeitório que a missão tinha estabelecido, em Manjacaze.

“Servíamos refeições para 300 crianças, para muitas delas era a única refeição”, conta Eduardo Marques.

Numa região que conta com uma grande taxa de crianças órfãs, devido a flagelos como a SIDA e a guerra, é precisamente dos mais novos, jovens e crianças, que o missionário guarda as melhores recordações.

O olhar das crianças, permanentemente de festa, de alegria e de descoberta, foi para si um exemplo.

“As crianças portuguesas perdem mais cedo esse olhar, tornam-se mais passivas” afirma o professor, destacando a vontade de aprender que os pequenos moçambicanos revelavam.

O professor Eduardo Marques foi para Moçambique ensinar, mas confessa que acabou por aprender também muitas coisas. Quando lhe lançamos o desafio de deixar alguns conselhos a quem queira partir em missão, destacou “o saber ouvir, mas não ficar passivo”, e ainda “a importância de saber formar líderes locais”, para que eles depois possam dar o seu contributo para a missão.