Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
Depois de atingir o valor mais elevado de sempre em Maio, o desemprego recuou para os 10,8 por cento no mês passado
Será que é desta que Portugal conseguirá travar a subida, todos os meses, do número de pessoas sem emprego? A taxa de desemprego calculada pelo Eurostat recuou pela primeira vez este ano, após o máximo histórico atingido em Maio. A evolução dos próximos meses permitirá comprovar se se trata de uma inversão de tendência, alicerçada na recuperação económica, ou apenas de um sinal positivo isolado.
Segundo os dados divulgados ontem pelo Eurostat, a taxa de desemprego em Portugal atingiu os 10,8 por cento em Junho, depois de, no mês anterior, ter atingido o valor-recorde de 10,9. Trata-se da primeira descida registada este ano e também desde Novembro de 2009, quando o desemprego resvalou de 10,2 para 10,1, após vários meses de estagnação.
Ainda assim, a taxa de desemprego permanece não só um ponto percentual acima do que estava há um ano como continua a ser a quarta maior entre os países da União Europeia. Apenas a Espanha (com uma taxa de 20 por cento), a Eslováquia (15 por cento) e a Irlanda (13,3 por cento) ultrapassam Portugal. Na zona euro, a taxa de desemprego estagnou nos dez por cento (valor que se mantém desde Março), enquanto na União Europeia (UE) permaneceu também inalterada nos 9,6, valor que se regista desde Fevereiro. Segundo o Eurostat, havia em Junho 23.062 milhões de pessoas sem emprego nos 27 países da UE, das quais 15.771 milhões são cidadãos da zona euro.
O secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, dizia ontem à agência Lusa que a inversão da tendência da taxa de desemprego é "uma boa notícia" para Portugal. "Naturalmente que ainda continuamos com taxas de desemprego elevadas, mas neste caso o sentido da tendência é que importa referir", afirmou, salientando, contudo, que é preciso "aguardar sempre" pelos resultados finais do Instituto Nacional de Estatística (INE) para "saber se esta previsão de descida se verifica em termos reais".
No dia 17 de Agosto, o INE irá divulgar a taxa de desemprego relativa ao segundo trimestre, que não é exactamente igual à calculada pelo Eurostat. É que os dados agora divulgados pelo gabinete de estatísticas europeu são mensais e têm em conta a sazonalidade (nos meses de Verão, por exemplo, o desemprego tende a reduzir-se), enquanto os do INE são trimestrais e não contabilizam alterações sazonais, pelo que podem revelar uma tendência "inflacionada".
Além disso, para calcular a taxa de desemprego, o Eurostat baseia-se não só nos dados do INE mas também nos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). No final de Junho, segundo o IEFP, havia 551.868 desempregados inscritos nos centros de emprego, menos 1,6 por cento face a Maio, naquela que foi a terceira descida mensal consecutiva.
Nas últimas previsões apresentadas, o Governo estimava que a taxa de desemprego terminasse este ano nos 9,8 por cento, ligeiramente acima dos 9,5 por cento registados no final de 2009. Contudo, no próximo ano, voltaria a disparar para os 10,1, acompanhando a tendência do crescimento da economia, que passaria de um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,7 por cento este ano para 0,5 em 2011. As previsões do Governo são, contudo, as mais optimistas.
A última estimativa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aponta para uma taxa de desemprego de 10,6 por cento este ano em Portugal, que recuaria em 2011 para os 10,4. Pior que isso só mesmo a previsão dos supervisores da banca europeia.
No cenário de referência dos testes de stress recentemente divulgados, o Comité das Autoridades Europeias de Supervisão Bancária (CEBS), em colaboração com a Comissão Europeia e o Banco de Portugal, consideravam que um crescimento débil da economia portuguesa (0,5 por cento este ano e 0,2 no próximo) conduziria a taxa de desemprego aos 11,1 por cento em 2010 e quase aos 12 em 2011.