in Jornal de Notícias
O preço dos alimentos no mercado mundial deverá permanecer próximo do nível recorde atingido em Janeiro pelo menos até ao verão, sendo o factor determinante as condições meteorológicas, considera Abdolreza Abbassian, especialista da FAO nesta área.
"Até ao verão deverão permanecer neste nível. Podem ir um pouco abaixo ou um pouco acima mas, a nossa previsão, é que não haja nenhuma correcção substancial", disse quinta-feira à agência Lusa o responsável da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO).
O índice global de preços dos alimentos da FAO atingiu em Janeiro o nível mais elevado de sempre, desde que é elaborado (1990), com subidas em todas as classes de produtos, com excepção da carne, e sobretudo nos cereais, óleos e gorduras alimentares e o açúcar.
Numa entrevista à Lusa, o responsável da divisão de mercados e comércio de cereais da FAO, explicou que os principais factores por detrás destes aumentos são a redução dos 'stocks' mundiais e o aumento da procura por parte de países em forte desenvolvimento, que "não mostra sinais de abrandar, mesmo com os preços elevados".
Comentando a eventual ligação entre o aumento do preço dos alimentos e as revoltas que se vivem no norte de África, Abdolreza Abbassian é peremptório ao afirmar que "é um problema adicional" mas não "o principal" factor.
"Não, não achamos que a subida dos preços dos alimentos tenha sido um factor muito importante nos tumultos no norte de África. Não podemos menosprezar e dizer que não afectou. Mas foi um problema adicional, não foi isso que fez as pessoas vir para a rua", afirmou o economista do Departamento Económico e Social da FAO.
As condições meteorológicas são "o factor determinante", considera o responsável da divisão de mercados e comércio de cereais da FAO.
O mesmo é válido quando se fala sobre os efeitos que estas revoltas podem ter nos preços dos alimentos no mercado mundial.
"Veremos qual será o impacto", ainda não estimado nas perspectivas para os próximos meses, referiu Abdolreza Abbassian, admitindo que o preço na produção pode ser afectado.
Mas mais importante na determinação do preço, afirma, é o volume de produção e quanto a isso "as perspectivas actuais são boas".
"Não queremos especular, mas os preços encorajaram os produtores e temos bons sinais na Europa, nomeadamente na Ucrânia, e também na América do Sul. Vamos ver o que acontece", adiantou o responsável da FAO.
Em 2010, as colheitas foram atingidas por condições meteorológicas adversas em muitos países que são grandes produtores, entre os quais a Austrália, a Rússia, vários países do norte da Europa e ainda o Paquistão.
Ainda assim, a situação "não é tão grave como foi em 2008", sustenta o mesmo especialista, "porque muitos países importadores, particularmente em África, incluindo a subsaariana, as produções nacionais, de mandioca e outras, foram boas".
Isso explica, aliás, que embora os preços no mercado mundial, sobretudo dos cereais, tenham aumentado 50 a 60% no último ano, nos mercados domésticos a subida "ficou pelos 15 a 20% se tanto", disse o economista.