3.3.11

Contrariar dependência exterior e apoiar agricultores é caminho apontado por partidos

in Jornal de Notícias

A necessidade de contrariar a excessiva dependência de Portugal relativamente à importação de bens alimentares - com reflexos no endividamento do país -, estabelecendo prioridades e apoiando os agricultores é o caminho apontado para combater a crise alimentar.

Para a generalidade dos partidos políticos ouvidos pela agência Lusa, a substituição de importações por produção nacional deve ser uma das prioridades para contrariar as consequências de factores como a crise económica ou o aumento das matérias-primas.

Paulo Portas, líder do CDS-PP, considera "absolutamente inacreditável o que se passou com a agricultura nos últimos anos".

"De acordo com os números do ano passado, o nosso défice alimentar é superior a três mil milhões de euros (...) o que dá a medida absolutamente crítica que Portugal pode e deve produzir mais na agricultura e na floresta", disse, acrescentando como uma das medidas essenciais assegurar que "as verbas à disposição de Portugal no âmbito do PRODER sejam exaustiva, intensiva e rapidamente aplicadas na economia agrícola"

O líder democrata-cristão considerou ainda ser importante "resolver na agricultura como noutros sectores o problema enorme da contracção do crédito".

"Como é que se desendivida o país? Produzindo mais, exportando mais e substituindo importações. É a única política de médio e longo prazo que reestrutura a situação do nosso endividamento (...) É preciso apostar radicalmente na agricultura. É um dos poucos sectores que pode contribuir ativamente para diminuir o endividamento", observou.

Para João Frazão, da comissão política do PCP, "o problema central do país não é o défice das contas públicas (...) mas sim o grave défice externo, nomeadamente o da balança agro-alimentar".

"O que é indispensável é inverter o rumo e pôr Portugal a produzir (...) garantir à pequena e média agricultura escoamento com preços justos. Se isso acontecer haverá produção nacional. Mas isso exige de imediato o controle dos preços dos factores de produção", disse.

Pelo Bloco de Esquerda, Pedro Soares sublinha que Portugal está hoje numa posição "muito vulnerável", porque importa perto de 75 por cento do que consome em termos agro-alimentares, mas também pelo "enorme impacto" que a variação dos preços nos mercados internacionais tem no país.

Sublinhando a "desvalorização" da produção agrícola nos últimos anos, o deputado defende a criação de "contratos tipo" de forma a que a grande distribuição não esmague os preços da produção e a criação de um banco de terras para evitar o "abandono constante" e de uma reserva estratégica nacional de produtos.

Contratos tipo para dar mais "transparência ao mercado" e bancos de terras, associados a "benefícios fiscais", são também ideias defendidas pelo PS, que realça a importância da manutenção de políticas de "agregação e emparcelamento" e de aproveitamento de novos regadios, como o Alqueva, onde existem 60 mil hectares com potencial de produção de milho, por exemplo.

"Temos também que sensibilizar os consumidores para que as suas escolhas sejam mais criteriosas. Escolhas que permitam reduzir as importações e, por outro lado, dar preferência aos produtos nacionais sempre que isso seja possível e a um preço acessível", afirma o deputado socialista Miguel Freitas, garantindo a apresentação de iniciativas legislativas durante o mês de Abril.

Contactado pela agência Lusa, o PSD não se mostrou disponível para comentar o assunto.