in Jornal de Notícias
O défice comercial português atingiu três mil milhões de euros em 2010, só no sector agrícola, e a vizinhança não ajuda, pois mais de metade do valor resulta das trocas comerciais no sector com Espanha.
Dos três mil milhões de défice das estatísticas oficiais, 1,527 mil milhões vêm do comércio agrícola com Espanha, segundo dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
Em 2009, de acordo com a AICEP, Portugal comprou 2,364 mil milhões de euros de bens agrícolas a Espanha (14,2% de todas as importações do setor) e vendeu 839,086 milhões de euros (9,8% do total), num diferencial que, segundo a presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares, Maria Antónia Figueiredo, se explica pela tradição, pela proximidade, mas também pelas diferentes apostas económicas nos dois lados da fronteira.
"Em 1986, quando Portugal e Espanha entraram na União Europeia, a meta espanhola era transformar-se no primeiro produtor mundial de ovinos, suínos e azeites e aumentar a produção de produtos hortifrutícolas. A agricultura em Espanha é considerada um sector estratégico de desenvolvimento. Em Portugal, isso não aconteceu", referiu a responsável.
Espanha é hoje, por exemplo, o maior exportador mundial de morangos, e o país entrega 54% do território à agricultura, que assegura três% do produto interno bruto e dá emprego a 6,4% dos trabalhadores.
"Há cerca de 15 anos, a região da Andaluzia [no Sul de Espanha] transformou-se numa região produtora de azeite. Em Portugal, só há dois ou três anos é que houve uma dinâmica de produção de olivais, mas já vamos com uma década de atraso", exemplificou Maria Antónia Figueiredo.