Por António Marujo, in Público on-line
O patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, foi eleito esta manhã para presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), substituindo no cargo o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, que completou o segundo mandato consecutivo permitido pelos estatutos da CEP.
A eleição do patriarca, que já exerceu o cargo entre 1999 e 2005, teve que ultrapassar, no entanto, um forte número de votos em D. Manuel Clemente, bispo do Porto, que era a outra forte hipótese para o cargo e que foi eleito vice-presidente.
Nos últimos dias, o bispo do Porto insistiu na ideia de que a presidência da CEP deveria voltar para sul. No sábado de Páscoa, em entrevista ao Correio da Manhã, Manuel Clemente avançava claramente a hipótese do patriarca para presidente: “Neste momento acho que a Conferência Episcopal deve estar no sul. Esteve dois mandatos no Norte e acho que agora ficava muito bem lá para o Sul, para a zona de Lisboa.”
Em declarações aos jornalistas, o patriarca referiu-se à morte de Bin Laden, afirmando que o sue primeiro comentário foi “valha-nos Deus”. E acrescentou: “A violência nunca é solução para nada, a violência gera violência.” O patriarca referiu que, se a morte de Bin Laden tivesse surgido na sequência de um tiroteio, teria sido melhor. “Pelos vistos, foi isso que aconteceu. Mas a maneira como acabou é triste. A violência gera violência.”
O patriarca foi eleito à terceira votação, depois de ter dito que a sua escolha levantaria um problema: “A minha eleição não deveria ser interpretada como forma de fazer qualquer pressão sobre a Santa Sé para prolongar o meu mandato como patriarca”, disse aos jornalistas. O cardeal Policarpo completou 75 anos em Fevereiro e, segundo as regras do direito canónico, pediu a resignação, aguardando agora a escolha do sucessor. Mas prevê-se que ele possa ficar no cargo pelo menos até final de 2012.
Na assembleia, depois de ter referido o mesmo problema, o núncio apostólico terá feito notar que o facto não constituiria obstáculo da parte do Vaticano. Até porque em Espanha o arcebispo de Madrid, cardeal Rouco Varela, foi reeleito há dois meses para um novo mandato como presidente, apesar de também completar 75 anos em Agosto próximo – e não no passado, como por erro o PÚBLICO ontem referia.
Para vogais do conselho permanente, foram eleitos os bispos de Braga e de Leiria-Fátima, António Marto, além dos do Algarve, Manuel Quintas, de Aveiro, António Francisco dos Santos, e de Setúbal, Gilberto Reis (que faz um segundo mandato no cargo).
A assembleia da CEP decidiu ainda, tal como o PÚBLICO adiantara na edição de ontem, que só mais tarde, possivelmente em Novembro, serão eleitos os presidentes das comissões sectoriais. O episcopado preferiu esperar pela nomeação dos novos bispos de Bragança e Lamego, bem como por outros auxiliares de Lisboa, para poder eleger os presidentes das comissões já a contar com os novos nomes.
Em relação à situação no país, o cardeal manifestou que “Portugal está a viver um momento muito próprio” mas a Igreja tem que “ter muito claro qual é o género de intervenção: não cairmos na tentação de fazermos intervenções no campo estritamente político ou estritamente partidário, que não é nossa função em nome da natureza do nosso ministério”.
O patriarca acrescentou que há uma intervenção da Igreja na “pré-política”, ou seja, “em sentido alargado: ajudar a esclarecer as pessoas” acerca dos valores. E acrescentou que a doutrina da Igreja sobre a sociedade “é um vasto monumento em que praticamente quase todas as questões que estão agora em cima da mesa em Portugal estão lá contempladas”.
Sobre o seu novo mandato na CEP, o patriarca afirmou que “há uma reflexão a fazer que é a do ângulo específico da intervenção da Conferência Episcopal na vida da Igreja”. Sem relativizar “a autonomia de iniciativa e responsabilidade pastoral das dioceses e dos bispos diocesanos, podemos ajudar-nos uns aos outros”, acrescentou.