in Expresso
Em entrevista ao Expresso, Vassilis Vassilikos, um dos mais conhecidos e respeitados escritores gregos da atualidade, considera "inaceitáveis" as pressões que vários líderes europeus têm feito para "condicionar" as eleições de domingo no país.
Na Grécia, Vassilis Vassilikos é visto por muitos como uma referência moral. Aos 77 anos, um dos mais respeitados escritores gregos da atualidade, traduzido em mais de 30 línguas, não se conforma com a situação a que chegou o país. O autor da obra Z, que deu origem ao filme homónimo distinguido com o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1970, diz que chegou a altura de o povo grego se erguer e enfrentar a União Europeia.
"Nos últimos cinco anos a Grécia tem sido uma cobaia nas mãos da UE, numa experiência que desgraçou o país. Economicamente, a situação tem piorado a cada dia que passa. Agora chega. A Grécia vai levantar-se e dizer à Europa: Não somos vossos escravos", diz o escritor, que combateu a ditadura militar dos Coronéis, entre 1967 e 1974, e viveu exilado em Roma, Paris e Berlim.
Apesar de concorrer por outro partido da esquerda - que teve 7% nas eleições de 2012 mas que agora deverá ficar abaixo do patamar mínimo de 3% para conseguir um lugar no Parlamento -, o escritor espera que o Syriza vença as legislativas. E acredita que isso "trará uma nova esperança para todo o Sul da Europa".
Syriza. A coligação de esquerda radical liderada por Tsipras está a um pequeno passo de vencer as eleições de domingo
Em declarações ao Expresso, lamenta a forma como a Grécia e outros países do Sul foram tratados pelo Norte da Europa, nomeadamente pela Alemanha, no início da crise, "retratados como povos preguiçosos que querem viver bem sem trabalhar" e referidos como P.I.G.S (sigla em inglês para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, que significa porcos). "Fomos tratados como lixo. A Grécia é o berço da Europa. Foi aqui que foi criada a política, a democracia, a filosofia ou o teatro. E não tiveram respeito por nós".
Apesar do fantasma pairar sobre estas eleições, Vassilis não acredita que haja um risco real de a Grécia sair do euro: "Os gregos não querem isso e a União Europeia também não. Seria um mau precedente". E garante que o país vai vencer a crise. "Sobrevivemos a 450 anos de ocupação turca, sobrevivemos à II Guerra Mundial, a uma guerra civil e a uma ditadura. O povo grego sobrevive há três mil anos e não vai sucumbir por uma simples crise económica".
Para o escritor, os gregos, no entanto, não sairão iguais desta crise. "Sairão melhores", garante. "Redescobrimos alguns valores que tínhamos esquecido como a importância da solidariedade e da união da família. E agora amamos a Grécia, mais do que nas últimas décadas".