Eduardo Pinto, in Jornal de Notícias
Rui Duarte, Anabela Vassalo e Márcio Azevedo são do concelho de Montalegre, que acolhe mais uma feira do fumeiro, até domingo. Licenciados em áreas diferentes, têm em comum a arte de criar porcos e produzir presuntos, chouriças e salpicões. São três dos 76 expositores destas iguarias do Barroso no certame.
"O facto de a nossa terra ser muito fria garante caraterísticas diferenciadoras ao nosso fumeiro", realça Rui Duarte. Tem na produção de enchidos e presuntos uma atividade complementar à criação de suínos de raça bísara e bovinos de carne. "É que o fumeiro é uma atividade sazonal", justifica, esclarecendo que passar a produzir e comercializar todo o ano significaria "enveredar por uma atividade industrial e não é o que se pretende". Para transformação em fumeiro, Rui abate 25 porcos por ano, com uma média de 180 quilos cada.
Anabela Vassalo inspirou-se no avô para começar a atividade, há quatro anos, como complemento ao emprego numa gráfica de Montalegre. "O povo do Barroso tem uma identidade muito entranhada, que faz com que queiramos fazer mais e melhor, pela nossa terra", justifica.
É uma ideia que Márcio Azevedo partilha. Por isso, desenvolve com o irmão Tomás, engenheiro agrónomo no Parque Nacional da Peneda-Gerês, a criação de porcos, produção de fumeiro e de mel. "Há seis anos, participámos na feira de Montalegre e a partir daí foi sempre a crescer. Começámos com três porcos e hoje temos 30 para abate", sublinha.
Ideias de crescimento
Márcio concorda com Rui Duarte quando este diz que o setor da criação de porcos e fumeiro, embora sendo uma atividade bonita e rentável, "exige muito trabalho e dedicação, absorvendo muitas horas de trabalho". "Ainda não dá para viver só dela", acentua o primeiro, mas, "ganhado maior escala e se houver melhor associativismo, haverá condições para viver só disto, e de uma forma desafogada, a curto prazo".
É o que quer fazer Rui Duarte, que, para já, tem 20 porcas reprodutoras, mas está à espera do novo quatro comunitário de apoio para ver se consegue financiamento para aumentar a exploração para 120 porcas. Anabela, que abate 20 porcos para fumeiro, também pensa ampliar a sua, "a curto prazo", contando com a ajuda da família para levar o projeto avante.
Em tempo de poucas oportunidades de trabalho, não há muito que pensar: "Ou os jovens desta zona emigram ou agarram-se às tradições e ao que sabem fazer bem feito, pois, aqui, indústria é quase zero", concordam.
Produzir fumeiro de qualidade atrai cada vez mais jovens. Como atividade principal ou complemento a outro emprego. Trabalhar na agricultura e pecuária deixou de ser mal visto, para passar a ser moda.